Pego na mentira mais uma vez, agora pelo repórter Fábio Schaffner, de ZH, o presidente Michel Temer dá motivos para que os brasileiros duvidem de todos os seus desmentidos. Primeiro foi o uso do avião de Joesley Batista para uma viagem da família Temer a Comandatuba, na Bahia. O Palácio do Planalto negou que Temer tenha viajado no jatinho da JBS em 2011, quando recém assumira a vice-presidência da República, e, no dia seguinte, teve de admitir que sim – até porque os passageiros ilustres estavam registrados no diário de bordo.
Agora, Fábio Schaffner descobriu que, em 9 de março de 2014, Temer usou um helicóptero da Juquis Agropecuária Ltda para ir a um compromisso oficial na cidade de Tietê (SP). O Planalto negou. Disse que o então vice-presidente foi à comemoração dos 172 anos de emancipação política do Tietê em aeronave da FAB. Mentira. Há testemunhos e fotos de Temer desembarcando do Bell prefixo PR-VDN no aeroclube de Tietê e dele no gramado, minutos depois, ao lado de auxiliares e do amigo José Yunes, que mais tarde seria seu assessor especial, com a aeronave ao fundo.
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Diante da impossibilidade de sustentar a versão, o Planalto corrigiu a informação e reconheceu que a viagem foi feita no helicóptero de um "amigo" de Temer, Vanderlei de Natale – sócio-administrador da Juquis. Ao mudar de versão, o Planalto justificou que, na resposta ao questionamento de ZH, houve confusão de datas durante a pesquisa à agenda oficial.
Viajar em avião, helicóptero, barco, carro ou bicicleta de empresários não deverá subtrair um voto sequer de Temer no Congresso. Lá, a carona é uma prática institucionalizada, mesmo quando existe evidente conflito de interesse. Mesmo com passagens pagas pelo erário, boa parte dos deputados e senadores tem aversão a voos comerciais. Há os que têm seu próprio avião e oferecem carona aos colegas para evitar o desconforto de viajar como um passageiro comum.
Essa prática não poupa nem ministros do Supremo Tribunal Federal. O relator da Lava-Jato, ministro Teori Zavascki, morreu em um acidente com o avião de um empresário de São Paulo, o dono do Grupo Emiliano. Considerado um ícone da política feita com ética, Ulysses Guimarães, o Senhor Diretas e grande líder do PMDB, morreu em 1992, na queda de um helicóptero cedido pela empresa Moinho São Jorge, num voo com tempo ruim entre Angra dos Reis (RJ) Rio e São Paulo.
Voltando a Temer, o problema não é apenas o conflito de interesse e o desrespeito à regra de que presidente e vice-presidente devem viajar em aeronaves da FAB. Uma sócia da Juquis está envolvida na Lava-Jato. O problema é a reincidência na mentira. Se o Planalto desmente uma informação e horas depois precisa voltar atrás, quem pode garantir que arapongas da Abin não foram escalados para bisbilhotar a vida do ministro Edson Fachin, do procurador Rodrigo Janot ou de quem quer que possa ser considerado inimigo do Planalto, como diz a revista Veja? Temer desmentiu, mas não convenceu. A propósito, uma das informações apuradas pelo "serviço secreto" é de que também Fachin viajou no jatinho da JBS, quando estava em campanha para ter seu nome aprovado pelo Senado. Fachin não confirmou nem desmentiu – e esse silêncio está ficando constrangedor.