A falta de moradia é um problema social gravíssimo nas grandes cidades do Rio Grande do Sul. Não atinge apenas as famílias despejadas do prédio histórico que já foi sede do Ministério Público, na esquina das ruas General Câmara e Andrade Neves, na tensa noite de quarta-feira. Por que, então o cumprimento da ordem judicial de desocupação do prédio desencadeou essa guerra política no Rio Grande do Sul? Porque o governo errou, a Brigada Militar exagerou e acabou dando discurso à oposição.
É fato que várias tentativas de negociação com os líderes da "Ocupação Lanceiros Negros" foram feitas, sem sucesso, desde 2015, quando o prédio foi invadido. A mediação fracassou, o governo recorreu ao Judiciário, uma juíza autorizou o despejo, uma desembargadora referendou a ordem, um oficial de Justiça requisitou a força policial para cumpri-la e o resultado virou o principal assunto no feriado de Corpus Christi.
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Cumprir ordem de despejo em uma noite de inverno, havendo crianças no prédio, foi o primeiro erro. A própria decisão judicial dizia que isso poderia ser feito no feriado. Arrastar e algemar o deputado Jeferson Fernandes (PT) foi o segundo problema. As imagens dessa noite de junho serão usadas exaustivamente contra o governo de José Ivo Sartori, que não teve sensibilidade para perceber as consequências da ação.
O problema começou lá atrás, quando o prédio foi desocupado pelo Ministério Público e entregue às baratas, como tantos outros de propriedade do Estado. Sendo patrimônio histórico, deveria ter sido conservado e usado desde logo para abrigar órgãos públicos hoje instalados em salas alugadas. Mas não. Ficou vazio até ser ocupado por famílias sem teto.
A invasão de prédios públicos ou privados não é o caminho para resolver o problema da falta de moradia. Como as políticas habitacionais são precárias em todas as esferas de governo, o resultado é esse: famílias morando em áreas invadidas ou de risco, enquanto o Estado é dono de um sem-número de imóveis que não utiliza porque são inadequados ou porque precisam de reforma. Uma alternativa socialmente justa seria incluir a construção de moradias no programa de permuta que começou com a troca de imóveis por vagas em presídios.