Depois de um longo período de silêncio, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, saiu da toca, estimulado pela boa notícia do crescimento do PIB em 1% no primeiro trimestre do ano, em relação ao quarto trimestre de 2016. Braço direito do presidente Michel Temer, Padilha deu uma entrevista reveladora da estratégia do governo no programa Gaúcha Atualidade: fazer de conta que a tempestade já passou, valorizar os resultados positivos na economia e insistir na tese da armação do empresário Joesley Batista.
Padilha chegou a dizer que o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures foi vítima de um "engodo" ao receber a mala com R$ 500 mil:
– Foi preparado um processo em que ele caiu e não se deu conta de que estava sendo usado. Ali, o objetivo era ter a filmagem.
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Engodo? O dicionário fornece várias definições para o substantivo engodo. Em sentido literal, é "isca que se utiliza para atrair animais, geralmente aves ou peixes". Em linguagem figurada, "cilada; comportamento repleto de falsidade e desenvolvido para enganar". Do ponto de vista jurídico, "tudo aquilo que se faz com o intuito de enganar alguém, induzindo esta pessoa ao erro".
Ainda que tenha sido "atraído para uma cilada", é preciso uma overdose de boa vontade para achar que Rocha Loures é um ingênuo engambelado pelo dono da JBS. Convém lembrar que ele guardou a mala com os R$ 500 mil e só devolveu quando veio a público a delação dos donos da JBS.
Padilha disse também que Temer não tem medo de uma eventual delação de Rocha Loures. Se tivesse, é óbvio que o ministro não diria. O que Padilha afirmou é mais preocupante: espera que Rocha Loures "mantenha o padrão ético" e não faça uma delação premiada.
Padrão ético? Qual será o padrão ético de um ex-assessor presidencial que faz o que ele fez? A defesa de Temer pode até se agarrar à falta de perícia da gravação que o compromete, mas as imagens de Loures recebendo a mala de dinheiro são irrefutáveis.
Sem mandato com o retorno de Osmar Serraglio à Câmara, Loures poderá ser preso. Na quinta-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu novamente a prisão dele. No pedido, Janot diz que o agora ex-deputado é "verdadeiro longa manus do presidente Michel Temer". A expressão latina quer dizer que atua a mando do presidente. Em português, Janot repete: é "homem de total confiança de Temer".
Em entrevista à revista IstoÉ, Temer reforçou o pensamento de Padilha sobre o padrão ético do ex-assessor:
– Acho que ele é uma pessoa decente. Eu duvido que ele faça uma delação. E duvido que ele vá me denunciar. Primeiro, porque não seria verdade. Segundo, conhecendo-o, acho difícil que ele faça isso. Agora, nunca posso prever o que pode acontecer se eventualmente ele tiver um problema maior, e se as pessoas disserem para ele, como chegaram para o outro menino, o grampeador (Joesley): "Olha, você terá vantagens tais e tais se você disser isso e aquilo". Aí não posso garantir.