Na falta de uma linha de defesa mais consistente, os aliados do presidente Michel Temer escancararam uma estratégia que pode ser classificada como de desespero: partir para o ataque ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Dizer que Janot age movido por interesses políticos, sem se preocupar com a consistência jurídica das acusações, é adotar o mesmíssimo discurso do PT em relação aos procuradores e ao juiz Sergio Moro.
Os aliados de Temer trabalham em duas frentes: na defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde a lógica indica a cassação da chapa, e no ataque a Janot, que deverá denunciar o presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva, obstrução de Justiça e associação criminosa. Nesta segunda-feira, Temer recebeu o questionário da Polícia Federal, com 84 perguntas relacionadas à delação de Joesley Batista. Legalmente, poderá até não respondê-las, mas, do ponto de vista político, o silêncio será interpretado como confissão de culpa.
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Além de atacar Janot, a estratégia do grupo mais próximo de Temer é evitar a qualquer custo uma delação premiada de Rodrigo Rocha Loures, o homem que recebeu uma mala com R$ 500 mil e só devolveu o dinheiro depois que as imagens da entrega vieram a público. A escolha do advogado gaúcho Cezar Bitencourt como defensor de Loures é o sinal mais evidente desse movimento para evitar a delação. Se quiser delatar, Loures terá de trocar de defensor.
No processo que será julgado a partir desta terça-feira no TSE, Temer tem duas possibilidades de escapar: se a maioria dos ministros entender que não cabe a cassação da chapa ou se aceitar a tese da defesa dele de separação das contas da presidente eleita em 2014 e de seu vice.
Com tudo o que se conhece da campanha de 2014, é difícil imaginar que o TSE dê aval aos métodos utilizados pela chapa Dilma-Temer, que não diferem dos usados por Aécio Neves (PSDB), primeiro a contestar o resultado e a denunciar abuso de poder econômico e político dos vencedores.
Igualmente indefensável é a divisão da chapa de modo a condenar Dilma e absolver Temer. Um não existe sem o outro. Até Torquato Jardim, antes de ser ministro da Justiça, concordava com essa indivisibilidade. Os 54 milhões de votos que elegeram Dilma são os mesmos que permitiram a Temer ocupar seu lugar a partir do impeachment.
O julgamento que começa nesta terça é histórico. Como disse o ministro Luís Roberto Barroso, é a chance de um novo começo para o Brasil. De "mostrar que ser honesto vale a pena" e que, assim como se diz "ditadura, nunca mais", se possa dizer "corrupção, nunca mais".
Aliás
Constrangedora é a situação do PSDB, que pediu a cassação da chapa Dilma-Temer na Justiça, agora integra o governo e ameaça debandar se houver alguma manobra antiética para salvar o presidente.