Em outras circunstâncias, a rejeição do relatório da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS) não seria nenhuma tragédia. O que importa é a votação em plenário, e lá sobram votos para aprovar as mudanças. No momento delicado que vive o presidente Michel Temer, o placar de 10 a 9 fez soar o sinal de alerta no Palácio do Planalto e enfraqueceu o discurso da normalidade, que o governo tem vendido nos últimos dias.
A oposição saboreou uma vitória com a qual nem ela contava e viu aprovado o relatório alternativo do senador Paulo Paim (PT-RS), totalmente contrário às mudanças na legislação trabalhista. O governo esperava ganhar por pelo menos 11 votos a 8.
A derrota tem nomes e sobrenomes. O mais vistoso deles é Renan Calheiros (PMDB-AL), que fez discurso contra, tentou adiar a votação e semeou a cizânia. Ex-presidente do Senado, Renan é um inimigo declarado de Temer na trincheira. Três votos foram decisivos para a rejeição do relatório do senador Ricardo Ferraço: Hélio José (PMDB-DF), discípulo de Renan, Eduardo Amorim (PSDB-SE) e Otto Alencar (PSD-BA), suplente na comissão, que só votou porque Sérgio Petecão (PSD-AC) não apareceu.
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Amorim tinha declarado voto contrário. O governo esperava que se ausentasse, mas ele compareceu e está sendo responsabilizado pela derrota pelo Planalto, porque ainda fez discurso defendendo a saída dos ministros tucanos da administração.
Embora o PMDB tenha dado um voto contra, o ministro Moreira Franco, da Secretaria-Geral, disse que "a postura contraditória" do PSDB foi determinante para a "desagradável" derrota do governo na votação da reforma trabalhista.
Em vídeo de 48 segundos divulgado nas redes sociais, o ministro Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, tentou minimizar a derrota:
– A votação trouxe algo que é corriqueiro. Perde na comissão, ganha no plenário. Isso já aconteceu com essa proposta na Câmara.
Também em vídeo, só que um pouco mais longo (1 minuto e 11 segundos), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fez raciocínio semelhante: a derrota na comissão foi pontual, mas o projeto será aprovado em plenário. Meirelles entrou em campo para acalmar o mercado, que se agitou com a perspectiva de naufrágio dessa reforma que é um dos pilares de sustentação do governo Temer. Mesmo assim, o dólar subiu 1,4% e a bolsa caiu 2%.
O raciocínio dos ministros em relação à votação no plenário é correto. Ao contrário da reforma da Previdência, que enfrenta forte resistência dentro e fora do Congresso, a trabalhista é mais palatável e pode ter impacto direto na geração de empregos.