Só em tom de ironia se pode dizer que o governo federal foi surpreendido com o término do contrato de concessão da freeway e teve de autorizar a prorrogação para não deixar a rodovia sem manutenção. Desde 1997 se sabe que o contrato com a Concepa expira em 4 de julho de 2017 e que o caminho óbvio é um novo edital para que quem apresentar a melhor proposta assuma a concessão.
A nova licitação começou a ser desenhada no governo de Dilma Rousseff, dentro de um pacote de concessões. No poder há 13 meses, o presidente Michel Temer acenou com um programa ainda mais ambicioso. A BR-290, entre Osório e Porto Alegre, faria parte de um polo composto, ainda, pela BR-101, entre Osório e a divisa com Santa Catarina, e a BR-386, de Canoas até Tio Hugo, além da BR-448.
O projeto inicial foi repudiado nas audiências públicas porque era, de fato, inaceitável. A duplicação da BR-386 entre Lajeado e Tio Hugo, por exemplo, só começaria no nono ano, pelo Norte. A reação negativa obrigou a reformular a proposta, mas o contrato chegou ao fim sem que o edital tenha sido publicado.
Como a Concepa era candidata natural a vencer a licitação, o ministro dos Transportes, Geraldo Quintella Lessa, chegou a chamar o polo de "Concepão" em uma entrevista à Rádio Gaúcha.
O imbróglio envolvendo a prorrogação do contrato da freeway é revelador da imprevidência, da falta de planejamento no governo federal e de como o jogo de interesses prejudica o contribuinte.
A rodovia vai continuar sendo administrada pela Concepa pelos próximos 12 meses, tempo necessário para que se faça uma nova licitação. Sem a prorrogação, o Dnit teria de contratar, em caráter emergencial, uma empresa para conservar a freeway e operar a ponte móvel do Guaíba, o que exige expertise. Quem além da Concepa poderia, em cinco dias, assumir a tarefa de controlar o sobe e desce da ponte, sem risco de interrupção da passagem de navios ou de deixar a Zona Sul isolada?
Mesmo com um dos pedágios mais caros do Brasil, que agora será reduzido, o usuário aprova o trabalho da Concepa. Além de manter a rodovia em boas condições, ela terá de manter o socorro mecânico e o atendimento médico, essenciais para a segurança.
