Vai para biografia do presidente Michel Temer o feito de ter conseguido quebrar um recorde de 28 anos: seu governo é o mais impopular desde José Sarney. Os dados da pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana mostram que, com apenas 7% de bom e ótimo, contra 69% de ruim e péssimo, Temer conseguiu superar os índices obtidos às vésperas do impeachment por Dilma Rousseff, em 2016, e por Fernando Collor, em 1992.
Sarney, o recordista até então, tinha 68% de ruim e péssimo em setembro de 1985. Dilma chegou ao fundo do poço em abril de 2016, com 13% de aprovação e 63% de reprovação.
A impopularidade de Dilma era um dos argumentos usados pela cúpula do PMDB para arregimentar adeptos à tese de que só o impeachment tiraria o Brasil do atoleiro. O programa elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB, e batizado de "ponte para o futuro" era apresentado a líderes empresariais e ao mercado financeiro como um passaporte para a modernidade. Um ano depois da posse, a ponte, rebaixada a pinguela por Fernando Henrique Cardoso, ruiu na esteira da delação premiada dos donos da JBS.
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Os índices de Temer têm mais a ver com as denúncias de que ele e oito ministros são suspeitos de corrupção do que com a paralisia do governo. Feita entre os dias 21 e 23 de junho, com 2.771 eleitores, a pesquisa não captou os reflexos da mais nova proposta em fermentação no laboratório do ministro Henrique Meirelles, de fatiar o pagamento do FGTS para quem for demitido sem justa causa.
A baixa popularidade é apenas um dos problemas de Temer – e nem pode ser considerada o mais grave. Difícil mesmo será lidar com a denúncia do procurador Rodrigo Janot, a ser apresentada nesta semana, e com o desmoronamento da tese do Planalto de que a gravação da conversa com Joesley Batista fora editada. A perícia oficial concluiu que não. Isso significa que Temer aplaudiu um crime quando disse "ótimo, ótimo" depois de ouvir o dono da JBS contar que estava tentando segurar dois juízes. Na mesma conversa, Joesley gabou-se de ter cooptado um integrante do Ministério Público Federal, que lhe repassava informações. O presidente nada fez. Depois tentou se justificar dizendo que o dono da JBS era um falastrão e que não o levou a sério.