Demitido do Ministério da Justiça, Osmar Serraglio prometeu para esta terça-feira a resposta sobre o convite para ser ministro da Transparência. Está cozinhando o presidente Michel Temer em banho-maria. Na hierarquia do poder, a troca é um rebaixamento para Série B dos ministérios, ainda que transparência e controle sejam vitais para qualquer país e que seja essa a pasta encarregada dos acordos de leniência com empresas que resolvem confessar seus crimes e pagar para continuar atuando e negociando com o governo.
O trunfo de Serraglio é ser detentor de um mandato parlamentar que lhe permite não mendigar um emprego no governo e, enquanto estiver licenciado, garante o foro privilegiado do suplente Rodrigo Rocha Loures, o amigo e ex-assessor especial de Temer flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil.
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Na hipótese de Serraglio não aceitar a oferta, o presidente fica com um abacaxi na mão. Sem a prerrogativa de foro, Rocha Loures pode ser preso, o que aumentaria a possibilidade de fechar um acordo de delação premiada e contar tudo o que viu, ouviu e de que participou nos últimos anos. Chamar outro deputado do PMDB do Paraná para o primeiro escalão e assim garantir a manutenção do foro privilegiado daria muito na vista e seria interpretado como tentativa de obstrução de Justiça. É verdade que quando se tratou de dar status de ministro a Moreira Franco, para livrá-lo do juiz Sergio Moro, Temer não se preocupou nem em disfarçar.
O que está claro até aqui é que Serraglio não caiu por ser um ministro incompetente na condução do Plano Nacional de Segurança. Caiu porque não tinha trânsito nos tribunais superiores e porque não quis, ou não foi capaz, de interferir na Polícia Federal, como exigiram colegas de ministério e aliados do peso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), um dos seus principais críticos.
Não é de hoje que os encrencados na Lava-Jato reclamam do excesso de autonomia da PF. Dilma Rousseff era cobrada até pelos companheiros do PT por não conseguir controlar delegados e agentes. Esse mérito até o Ministério Público reconhece nela: não interferiu na Lava-Jato e não tentou asfixiar a Polícia Federal pelo corte de verbas.
Aliás
A revista Veja informa que Guido Mantega reconheceu ter uma conta não declarada no Exterior. Se um ex-ministro da Fazenda não confia no sistema bancário brasileiro, o que se pode esperar de sua gestão no comando da economia? A história completa ainda está para ser contada.