Durou pouco o alívio dos aliados do presidente Michel Temer, que acharam pouco comprometedores os áudios divulgados na quinta-feira. A íntegra da delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista é arrasadora para Temer do ponto de vista político, jurídico e pessoal. A crise subiu de patamar e fez crescer o clamor pela renúncia do presidente. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu e o ministro Edson Fachin autorizou a investigação de Temer por obstrução da Justiça, corrupção e associação criminosa.
É verdade que nesse campeonato de imoralidade há um empate técnico entre os grandes partidos, mas Temer é o presidente e está às vésperas de enfrentar o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Embora o processo já esteja concluso para julgamento, os fatos novos dos últimos dias podem influenciar os ministros que pretendiam pedir vista para empurrar o veredito para depois da eleição.
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O material divulgado na sexta-feira contextualiza a gravação que os aliados de Temer consideraram frágil, em relação ao aval para compra do silêncio de Eduardo Cunha, reforça a percepção de que ele foi leniente diante da confissão de crimes por Joesley Batista e traz novas revelações.
O anexo 9 da delação explicita troca de favores e relata pagamento de propina ao presidente. Em um dos vídeos do depoimento de Joesley, o empresário diz que Temer embolsou R$ 1 milhão de um total de R$ 10 milhões repassados pelo PT para a campanha de 2014.
O PT, que está comemorando a derrocada de Temer, não tem motivo para celebrar, porque também saiu lanhado da delação dos irmãos Batista. Pelos depoimentos, foi o partido que mais recebeu dinheiro de propina em contas no Exterior: US$ 150 milhões.
A delação atinge em cheio os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, que negam ter recebido o recurso. Como se trata de contas cujos números e bancos os delatores conhecem, não será difícil para os investigadores confirmar a veracidade das informações, rastreando depósitos e saques. Lula, que já responde a cinco inquéritos na Justiça Federal, será alvo de novas investigações, com prejuízo a suas pretensões eleitorais.
Os donos da JBS distribuíram dinheiro a rodo para financiar campanhas e assim eleger governos e parlamentares dispostos a defender seus interesses. Os números são superlativos: cerca de R$ 600 milhões em doações ilícitas, 1.829 candidatos de 28 partidos financiados, 179 deputados estaduais e 167 deputados federais eleitos, 28 senadores e 16 governadores contemplados com dinheiro de propina.
Sobrou até para o governador José Ivo Sartori, que recebeu R$ 2,6 milhões em doações oficiais. O delator Ricardo Saud contou aos investigadores que, desse total, R$ 1,5 milhão era da conta de propina do senador Aécio Neves (PSDB), que mandou repassar para a campanha de Sartori, por ser da ala dissidente do PMDB, que não apoiou a chapa Dilma-Temer.
Aliás
O grampo legal no telefone do senador Aécio Neves captou conversa com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, fazendo articulações políticas. O artigo 39 da Lei 1.079/50 diz que é crime de responsabilidade um ministro do STF “exercer atividade político-partidária”.
Passarinho
Seria cômico se não se tratasse de crime: o delator Ricardo Saud contou que a senha usada por Temer para saber sobre a propina para Eduardo Cunha era perguntar se estava dando alpiste para o passarinho e se o passarinho estava tranquilo na gaiola.