Enquanto as atenções estão voltadas para a ofensiva do Palácio Piratini para privatizar estatais, incluindo companhias superavitárias, como a Sulgás e a CEEE Geração e Transmissão, alguns elefantes brancos do Estado escapam despercebidos. Fechado há 13 anos para reformas que deveriam triplicar a sua capacidade produtiva, o Laboratório Farmacêutico do Estado (Lafergs) é um desses exemplos.
A demora nas obras de modernização e ampliação – que atrasaram seis anos e custaram o dobro do previsto inicialmente – fez com que o laboratório, inaugurado em 1972, perdesse todos os registros de medicamentos. Nos últimos dois anos, o Estado desembolsou R$ 1,12 milhão com a manutenção da estrutura de 3 mil metros quadrados, incluindo gastos com luz, água, limpeza e vigilância – até abril deste ano, foram mais R$ 46,7 mil.
É um valor irrisório se comparado com o déficit bilionário nas contas públicas, mas simbólico num momento em que o governo sequer consegue manter a folha de pagamento em dia. Com o montante referente às despesas de 2015 e 2016, seria possível pagar o salário de 362 soldados da Brigada Militar.
Uma das últimas movimentações no sentido de ressuscitar o Lafergs ocorreu em julho do ano passado, quando o governador José Ivo Sartori sancionou a lei, aprovada pela Assembleia em 2015, que transformou o laboratório em empresa pública, sob o pretexto de ter mais autonomia. Antes, era um departamento vinculado à Secretaria da Saúde.
Talvez por não ter segurança de bancar o projeto em meia à onda de extinções e possíveis privatizações, o governo parece não ter pressa para concluir a mudança. Sem a nomeação de um conselho de administração, publicação do estatuto no Diário Oficial e registro na Junta Comercial, o Lafergs hoje está no limbo. O atual ritmo, segundo o diretor do Lafergs, Paulo Mayorga, é incompatível com os compromissos que o laboratório vem assumindo com o Ministério da Saúde. No mês passado, a pasta autorizou o repasse de R$ 20 milhões, sem contrapartida do Estado, para projeto de fabricação de filtros de hemodiálise e de aparelhos auditivos.
–É como um carro que está parado. Só falta dar a partida. É um projeto desenvolvimentista, para nacionalizar a produção de itens que hoje são importados, melhorar a balança comercial e gerar empregos no Brasil – diz Mayorga, professor licenciado da UFRGS que se dedica à reativação do Lafergs desde 2011.
Outro exemplo de estrutura que está devagar, quase parando é o Centro de Pesquisas Rodoviárias (CPR) do Daer, na Avenida Ipiranga. Inaugurado em 2005, custou, na época, R$ 3,2 milhões, em recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Um dos 15 servidores que trabalham no local conta que a equipe já foi composta por cerca de cem pessoas e hoje "tenta fazer milagre com o que tem".