No mesmo dia em que o Tribunal Superior Eleitoral acatou a sugestão do Ministério Público Eleitoral para que os marqueteiros João Santana e Mônica Moura sejam ouvidos no processo que poderá cassar a chapa Dilma-Temer, o Supremo Tribunal Federal homologou a delação premiada da dupla. As confissões do casal podes ser comparadas às dos executivos da Odebrecht em matéria de octanagem. Porque a Odebrecht confessa que pagou, com dinheiro sujo depositado no Exterior, campanhas feitas por João Santana e Mônica Moura, entre as quais as de Dilma Rousseff e Michel Temer. Quando esses dois fios se unem, a explosão é inevitável.
Santana e Mônica substituíram Duda Mendonça no anedotário político como publicitários capazes de moldar um candidato do barro e transformá-lo em vencedor. O preço? Sempre se soube que era alto, maior do que o declarado à Justiça Eleitoral, mas só agora se tem a dimensão da babilônia de dinheiro que circulou por contas secretas, driblando o sistema financeiro nacional.
Duda Mendonça, que escapou no mensalão mais pela competência de seu advogado do que por falta de motivos, também recebeu dinheiro no Exterior para o pagamento de campanhas do PT. Mas alegou que não tinha como saber que o dinheiro era sujo, e o mesmo Supremo que condenou personagens secundárias, o absolveu. Sua carreira de marqueteiro político se esfumou, mas ele não precisou mofar na cadeia nem pagar a fiança milionária que Mônica e Santana pagaram.
Os depoimentos do casal, de André Santana, que trabalhava com eles, e do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega são elementos novos que podem retardar ainda mais a conclusão do julgamento no TSE. Embora a defesa de Michel Temer diga que não interessa a demora, a verdade é que o presidente e seus aliados jogam, sim, com o tempo para que a eventual cassação não se consume antes da eleição de 2018. A defesa de Dilma aposta na protelação para que ela não se torne inelegível até a eleição. O PT quer que a ex-presidente concorra a deputada federal, para reforçar a bancada na Câmara.
A autópsia das últimas campanhas, com a confissão dos marqueteiros sobre como recebiam pelos serviços prestados, põe a nu a incapacidade da Justiça Eleitoral de fiscalizar de forma adequada as prestações de contas. A indústria do caixa 2 prosperou sob o olhar complacente da Justiça, que, mesmo percebendo os sinais exteriores da riqueza, se atinha apenas aos aspectos contábeis. Não é por acaso que todos os acusados se defendem dizendo que só receberam doações de acordo com a lei e que as prestações de contas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.
A grande obra da Lava-Jato, a par de colocar na cadeia corruptos e corruptores, será reduzir a farra das campanhas milionárias, que elegeram candidatos pela força do poder econômico e enriqueceram profissionais capazes de fabricar presidentes, governadores, prefeitos, deputados, senadores usando a mesma forma e com estratégia semelhante à da promoção de um bem de consumo.