No processo que tramita no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, o vice-procurador Nicolao Dino, afirma em seu parecer que a campanha vitoriosa em 2014 recebeu no mínimo R$ 112 milhões em recursos irregulares. Quem pediu a cassação da chapa foi o PSDB, inconformado com a derrota do senador Aécio Neves. A ironia é que, no mesmo fim de semana em que o parecer foi divulgado na Folha de S.Paulo, a revista Veja publicou uma reportagem arrasadora para Aécio.
Desse enredo, conclui-se que o vencedor da eleição de 2014 foi o caixa 2, e não teria sido diferente se Aécio tivesse feito um voto a mais do que Dilma. O mesmo sistema viciado que permitiu a Dilma e Temer financiarem sua campanha milionária foi usado por Aécio.
Segundo o procurador, os R$ 112 milhões chegaram à campanha Dilma-Temer irregularmente da seguinte forma: R$ 45 milhões de caixa 2; R$ 17 milhões de "caixa 3"; e R$ 50 milhões de propina.
O mandato, Dilma já perdeu com o impeachment. Se o TSE decidir pela cassação da chapa, Michel Temer perde o cargo e ela fica inelegível por oito anos, mas dificilmente o julgamento será concluído antes da eleição de 2018.
O problema de Aécio, cujo mandato de senador termina em 2018, é que, segundo a Veja, Benedicto Junior, ex-executivo da Odebrecht, teria dito na delação de que o dinheiro repassado à época em que foi governador de Minas era pagamento de propina.
Delatores da Odebrecht dizem ter repassado R$ 70 milhões ao tucano de 2003 até agora. Na prestação de contas da campanha de Aécio em 2014, a Odebrecht aparece como doadora de R$ 15,9 milhões. Aécio e a irmã Andrea, que seria a operadora da conta que recebeu o dinheiro em Nova York, sustentam que a acusação é falsa.
Até o final do mês, o Brasil saberá se a Veja errou ou se, de fato, Benedicto acusou Aécio de cobrar propina da empreiteira nas obras do Centro Administrativo que construiu em Minas Gerais e de uma hidrelétrica em Rondônia.
O defensor de Aécio, Alberto Goron, disse que o advogado de Benedicto Junior, Alexandre Wunderlich, negou que seu cliente tenha citado o nome do senador. Como as delações ainda estão sob segredo de Justiça, é óbvio que não seria Wunderlich a quebrar o sigilo.
ALIÁS: O “caixa 3” a que os procuradores se referem é uma operação terceirizada por meio da qual a chapa Dilma-Temer recebeu R$ 17 milhões da Cervejaria Itaipava, a mando da Odebrecht, que fez o reembolso no Exterior.