Desde que a direção da Odebrecht decidiu que seus executivos fariam um acordo coletivo com o Ministério Público Federal e contariam todas as negociatas feitas nos últimos anos com políticos, dizia-se que essa era a delação do fim do mundo. Com a divulgação dos inquéritos autorizados pelo ministro Edson Fachin, constatou-se que a delação de Marcelo Odebrecht e de seus antigos subordinados tem o efeito de um terremoto de magnitude superior a todos os já registrados no mundo da política brasileira.
Todos os grandes partidos, e alguns pequenos e médios, foram atingidos pela onda gigante que se formou em Brasília, abalou o governo de Michel Temer, com oito ministros sob investigação, atingiu a cúpula da Câmara e do Senado, espalhou-se pelos Estados, respingou em biografias consagradas e terá efeitos na eleição de 2018.
Principal nome do PT para a sucessão presidencial, Lula, a quem Marcelo Odebrecht atribui o codinome "Amigo" e diz ter repassado R$ 3 milhões em espécie, aparece na lista ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff e outros 16 companheiros. Sem foro privilegiado, Lula vai para a jurisdição do juiz Sergio Moro, onde já está por fatos narrados por outros delatores. Não é diferente a situação do PSDB: a lama atingiu 13 líderes do partido, incluindo três possíveis candidatos ao Planalto: Aécio Neves (cinco inquéritos), José Serra e – novidade – Geraldo Alckmin, acusado de usar um cunhado para receber propina da Odebrecht.
Da cúpula do PMDB só escapou o presidente Michel Temer, porque não pode ser investigado por fatos alheios ao mandato iniciado há menos de um ano. Dois dos ministros mais próximos do presidente estão em situação delicada: Eliseu Padilha e Moreira Franco serão investigados por lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva. O líder do governo no Senado, Romero Jucá, primeiro ministro a cair na gestão de Temer, foi enquadrado pelos mesmos crimes.
Do Rio Grande do Sul, os que têm mais motivo para preocupação até aqui são Padilha, os deputados Yeda Crusius (PSDB) e Marco Maia (PT) e os ex-presidentes da Trensurb Marco Arildo e Humberto Casper. Todos serão investigados por lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva.
A acusação que pesa sobre os demais (Maria do Rosário, Onyx Lorenzoni, Manuela D'Ávila, Frederico Antunes e Beto Albuquerque) é de falsidade ideológica eleitoral, o popular caixa 2a.
Não houve surpresa em relação a esses nomes, porque seus codinomes eram conhecidos nas listas da Odebrecht. Sabia-se também que um dos executivos da empresa denunciou cobrança de propina nas obras de extensão do trensurb até Novo Hamburgo por um grupo do PT e outro do PMDB. A surpresa foi o aparecimento do nome do ex-governador Germano Rigotto por, supostamente, favorecer a Braskem quando administrou o Estado. Rigotto, assim como a maioria absoluta dos citados, garante que só recebeu doações legais em suas campanhas.