Afável, educado, espirituoso, inteligente, cavalheiro. É com adjetivos dessa família que políticos e empresários que conviveram com Alexandrino de Alencar definem o homem que agora se tornou o pesadelo de quem recebeu doações legais e ilegais da Braskem ou de qualquer das empresas do Grupo Odebrecht. Antes de virar um dos mais temidos delatores da Lava-Jato pelos políticos do Rio Grande do Sul, Alexandrino era uma espécie de tábua de salvação para quem precisava de doações de campanha. Todo mundo conhecia a generosidade da Braskem como doadora oficial de campanha. Poucos sabiam do que se passava no mundo paralelo.
Nos últimos anos, se o governador ou o presidente da República viajavam para o Exterior, Alexandrino era figura certa na comitiva. Integrante da diretoria da Fiergs, interagia com empresários, secretários, deputados e jornalistas. Contava histórias divertidas de suas viagens pelo mundo, alardeava a proximidade com o ex-presidente Lula e circulava com desenvoltura na esquerda, no centro e na direita. No governo Tarso Genro, integrou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Esteve na China com Germano Rigotto, em 2004, e com Tarso Genro, em 2013. Mostrou-se desconfortável quando, na exibição de um audiovisual sobre as oportunidades de negócio no Rio Grande do Sul, o governador citou a ERS-010, projeto que a Odebrecht pretendia executar em regime de parceria público-privada. Acompanhou a viagem de Tarso a Cuba, em 2012, e fez questão de ciceronear o grupo na visita ao canteiro de obras do Porto de Mariel, a megaobra da Odebrecht financiada pelo BNDES.
Esse Alexandrino, que agora aparece nos vídeos como em um sonho ruim para os que um dia receberam contribuições de campanha da Braskem, também era um garimpeiro de talentos. Não só conhecia os políticos experientes como estudava os jovens que se destacavam na cena do Rio Grande do Sul.
– Essa menina vai longe – profetizou durante uma festa de casamento, em 2006, sentado ao lado do então governador Germano Rigotto, referindo-se à deputada Manuela D'Ávila (PC do B).
Na lista da Odebrecht, Manuela (codinome Avião) aparece entre os agraciados com doações, por meio de caixa 2, em 2008 e 2010. Avaliação semelhante Alexandrino fez de Maria do Rosário (PT). No depoimento, disse ter intuído que Rosário tinha potencial. Falou de uma doação de R$ 150 mil de caixa 2 para a campanha dela, apelidada de "Solução", e disse que acertou na avaliação, porque ela virou ministra dos Direitos Humanos no governo de Dilma Rousseff.
Seguindo a cartilha da Odebrecht, que não separa coxinha de petralha, porque o interesse da empreiteira vem em primeiro lugar, o homem da Braskem não fazia sua seleção por partido. O mesmo potencial que viu em Manuela e Rosário, identificou em Onyx Lorenzoni (DEM), batizado de "Inimigo" (do PT) e contemplado com R$ 175 mil de caixa 2. Todos negam ter recebido doações ilegais.