Debilitado pela cirurgia a que se submeteu na segunda-feira e sem previsão de alta do Hospital Moinhos de Vento, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, virou alvo do fogo amigo que esquenta as frigideiras no Palácio do Planalto. Até seus companheiros mais próximos desconfiam de que esteja em curso uma tentativa de fazer dele uma espécie de José Dirceu do PMDB – o articulador político jogado às feras para preservar o presidente da República.
À época do mensalão, o ex-presidente Lula foi poupado e toda a responsabilidade pela montagem do esquema de compra de apoio político recaiu sobre as costas de Dirceu, que cumpriu pena na Papuda, em Brasília, e hoje está preso em Curitiba, condenado a 23 anos de cadeia pelo juiz Sergio Moro por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
De Temer, Padilha não recebeu nenhum sinal de ingratidão. Pelo contrário. O presidente liga regularmente para saber de seu estado de saúde e não deu nenhuma declaração que comprometa seu ministro. O silêncio é de mão dupla: do hospital, Padilha também não fala.
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Com soro na veia, sonda na uretra e um dreno no corte feito no abdômen para retirada da próstata, o ministro restringiu as visitas à família e aos amigos íntimos. O dreno deve ser retirado hoje. Por meio de sua assessoria, mandou dizer que não vai se manifestar sobre as declarações de Marcelo Odebrecht de que negociou com ele doações de campanha para o PMDB, nem sobre a afirmação do advogado José Yunes de que foi "mula involuntária" ao receber, em seu escritório, um envelope destinado a Padilha, entregue pelo doleiro Lúcio Funaro. Quando retornar ao trabalho, o ministro terá de lidar com a sugestão de Yunes de uma acareação com ele e com Funaro.
Para Temer, que já perdeu quatro dos seus melhores amigos no ministério (Romero Jucá, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves e José Yunes), afastar Padilha seria uma medida extrema, com risco de produzir mais custo do que benefício. Enquanto estiver em tratamento de saúde, Padilha tem estabilidade no cargo. O levantamento do sigilo dos delatores da Odebrecht será determinante para o futuro de cada ministro e do próprio presidente. Até lá, tudo indica que Temer vai redobrar a cautela.
Com a confirmação de Marcelo Odebrecht de que repassou R$ 150 milhões à chapa Dilma-Temer, parte de caixa 2, a estratégia da defesa do presidente será insistir na separação das contas. O depoimento do empresário foi relativamente bom para Temer, porque confirmou o jantar no Palácio do Jaburu, mas disse que só tratou com Padilha o dinheiro para as campanhas do PMDB. O presidente e o chefe da Casa Civil sustentam que os R$ 10 milhões doados pela Odebrecht estão na contabilidade do PMDB.
Temer, que visitou o ex-presidente Lula no Hospital Sírio-Libanês quando Marisa Letícia já tinha sido declarada sem atividade cerebral, não deu sinal de que pretenda vir a Porto Alegre dar uma força para o amigo. Ainda há tempo: Padilha não tem previsão de alta.
Aliás
Acredite quem quiser: o ex-ministro Henrique Eduardo Alves, que não esquentou banco no governo Temer, tenta convencer a Justiça de que não tem ideia de quem fez (e por que) um depósito de US$ 833 mil em uma conta dele na Suíça.