Mergulhado em uma greve infindável de policiais militares, o Espírito Santo vive, desde o início da semana, a quebra escancarada das regras sociais e civis. Sem o olhar do Estado, representado pela força de segurança, parte dos capixabas se sente autorizada a saquear o comércio local. Assassinatos e outros crimes graves também foram alavancados sem os PMs nas ruas.
Concomitante a isso, nesta quinta-feira, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado foi preenchida por uma dezena de investigados na Operação Lava-Jato, que sabatinarão, nos próximos dias, Alexandre de Moraes, indicado pelo presidente Michel Temer para o Supremo Tribunal Federal. Moreira Franco, promovido a ministro por Temer, teve sua ascensão barrada por liminar pela segunda vez em menos de 24 horas. Nas decisões, o mesmo entendimento de que a nomeação serviria para dar a Moreira a prerrogativa de foro que meros secretários não têm. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, só não foi indiciado pela Polícia Federal por recebimento de propina porque tem foro privilegiado e tal inquérito precisa ser analisado pela Suprema Corte brasileira.
É diante desse cenário de corrupção e permissividade que os cidadãos do Espírito Santo sentem-se à vontade para roubar, furtar e dar de ombros para qualquer conduta aceitável, ausente em seus representantes no comando do país.
– É com esse substrato que as pessoas sentem-se autorizadas a não cumprir o pacto social, as regras – explica o doutor em Sociologia Leo Peixoto Rodrigues, professor de ciência política da UFPel. – Às vezes, os saques podem ser uma forma de protesto inconsciente ou consciente diante do cenário. A desorganização é contagiosa – conclui.
A fragilidade do Estado faz com que os brasileiros sigam a lei por medo de repressão física e moral, não por achar que os códigos civil e moral sejam prerrogativas para o bem-estar social e individual.
Sem o restabelecimento das já corrompidas instituições, a tendência é de agravamento da crise ética em todas as esferas.
Aliás
Candidata a vereadora na eleição passada em Cachoeiro do Itapemirim (ES), Marcela Ranocchia (PSDB) pedia o fim da corrupção durante a campanha, mas saqueou uma loja na cidade nesta semana. Por ter sido flagrada, devolveu à polícia os objetos furtados: óculos, sapatos, bolsas, lingeries e uma panela de pressão.