Terminada a manifestação de pesar pela morte do ministro Teori Zavascki, na tarde de sábado, o presidente Michel Temer fez menção de deixar a sala, mas deu meia volta e retornou ao microfone para responder à pergunta de um jornalista: quando iria indicar o novo ministro do Supremo Tribunal Federal? Como se a resposta já estivesse na ponta da língua, falou:
– Só depois. Só depois que houver a indicação do relator.
Pronto. Havia, enfim, uma notícia. A manifestação pela morte de Teori tinha sido uma repetição do que dissera na noite de quinta-feira, mas a curtíssima resposta encerrava uma das principais especulações sobre o futuro da Lava-Jato. O novo ministro, seja ele quem for, herdará outros processos de Teori, mas não será seu substituto como relator da Operação. Não caberá ao indicado por Temer decidir se homologa ou não as delações premiadas. Essa tarefa será de um dos atuais ministros.
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No fim de semana, especulou-se que a presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, poderia usar os poderes que lhe confere o regimento interno para homologar, ela mesma, as delações dos 77 executivos da Odebrecht. Da ministra, nada se ouviu. Arrasada com a morte de Teori, de quem era amiga, Cármen Lúcia manteve-se discreta o tempo todo durante o velório. Sequer desceu para falar aos jornalistas, como fizeram Temer, o juiz Sergio Moro e outras autoridades.
Temer acerta ao deixar a indicação do novo ministro para depois da escolha do relator. Preserva o futuro ministro (e a si mesmo) de suposições sobre o uso de critérios pouco republicanos na indicação. Porque se estreasse com o peso de ser o relator da Lava-Jato, o sucessor de Teori seria cobrado por uma demora natural a quem precisa se inteirar de um caso complexo como esse.
Pessoas ligadas ao presidente garantem que ele fará uma escolha técnica e que evitará indicar um amigo do peito. Se possível, optará por alguém de perfil semelhante ao de Teori, o que não é tarefa simples. Vivo, o ministro já era um tipo singular. Nas circunstâncias em que morreu, ganhou ainda mais estatura.