Por obra e graça de simpatizantes do PT inconformados com o resultados das urnas, circula nas redes sociais uma campanha pela anulação do voto no segundo turno em Porto Alegre. O jingle “Anula já” tem o ritmo da música das campanhas do ex-presidente Lula desde 1989, que tinha o refrão “Lula lá, brilha uma estrela, Lula lá...”A letra desqualifica os candidatos Sebastião Melo (PMDB) e Nelson Marchezan (PSDB), associa o vice-prefeito a Michel Temer e o tucano a Yeda Crusius e diz que prefere votar no diabo a escolher um dos dois.
Esse tipo de manifestação prospera entre os eleitores do PT porque o partido decidiu não apoiar nenhum dos dois candidatos. No velho espírito dono da verdade e detentor do monopólio da ética – apesar de enfraquecido pela Lava-Jato –, o PT desrespeita os eleitores que rejeitaram a esquerda em 2 de outubro e contraria o espírito do segundo turno, que nunca foi contestado quando o partido classificou seus candidatos. Segue a mesma trilha do PSOL, que passou a pregar o voto nulo. A candidata Luciana Genro, que ficou em quarto lugar, foi para o Rio de Janeiro, se engajar na campanha de Marcelo Freixo.
O PC do B, partido da vice do petista Raul Pont, avançou um passo em relação ao PT e ao PSOL. Reunido ontem o partido decidiu que não fechará com ninguém no segundo turno, mas aprovou um documento que pode ser lido como um apoio velado a Melo.
– O PC do B é crítico às duas candidaturas, mas orienta a militância a ter uma posição mais dura com Nelson Marchezan. A eleição dele seria um retrocesso ainda maior em relação ao que vem ocorrendo em Porto Alegre – diz o presidente municipal do partido, Márcio Cabral.
O vazamento da posição mais favorável a Melo irritou setores do PC do B, que temem prejuízo em uma disputa menor: o comando do Sindicato dos Municipários.
O voto nulo ou em branco é uma opção do eleitor, mas o partido que orienta seus militantes a não escolherem nenhum dos dois candidatos no segundo turno não estará livre a responsabilidade se o pior for eleito em Porto Alegre, Caxias do Sul, Canoas ou Santa Maria. Quem vota em branco, anula ou se abstém está favorecendo o vitorioso por omissão. Voto de protesto não resulta em nova eleição. Com maior ou menos legitimidade, o prefeito será o que receber o maior número de votos válidos. Quem abrir mão de escolher um dos dois candidatos estará terceirizando a escolha. Depois, não reclame.