Para não alimentar as teorias conspiratórias segundo as quais a Lava-Jato só tem olhos para o PT, a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal terão de apressar o passo e tratar dos políticos de todos os partidos citados em delações premiadas. Do PMDB, do PP e do PSDB. Na lista de propina da Odebrecht, figuram políticos de todos as maiores legendas, identificados por codinomes que os investigadores, com a colaboração de funcionários e executivos da empreiteira, não terão dificuldade para associar a nomes e CPFs. Basta querer.
No Supremo, os processos que pareciam amarrados a uma bola de ferro começaram a andar. Os ministros transformaram em réus o casal Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo. Ela, senadora pelo PT do Paraná e ex-chefe da Casa Civil; ele, ex-ministro do Planejamento e das Comunicações.
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A Lava-Jato fez um strike no PT. O ex-presidente Lula responde a processo em Curitiba por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e em Brasília por tentativa de obstrução da Justiça. Dois ex-ministros dos governos petistas estão na cadeia (José Dirceu, já condenado, e Antonio Palocci em prisão temporária). Guido Mantega teve a prisão revogada pelo juiz Sergio Moro horas depois de ter sido detido no hospital em que acompanhava a mulher, na quinta-feira passada. Outros tantos ex-assessores de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff estão sob investigação. Os últimos tesoureiros do PT (Paulo Ferreira e João Vaccari Neto) estão presos. O anterior, Delúbio Soares, já condenado no mensalão, também é réu na Lava-Jato. Em outra operação, a Acrônimo, é réu o governador de Minas, Fernando Pimentel, ex-ministro do Desenvolvimento.
Contra os petistas há farto material obtido nas delações premiadas e nas operações de busca e apreensão. E contra os políticos de outros partidos? Também há. A maioria está livre do juiz Sergio Moro porque tem foro privilegiado. É o caso dos citados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, como beneficiários de propina da Petrobras. Entre eles, o presidente do Senado, Renan Calheiros, o ex-presidente José Sarney e o senador Romero Jucá (demitido do Ministério do Planejamento por conta da delação). No PP, a lista é extensa, incluindo o ex-ministro Mário Negromonte e o presidente nacional Ciro Nogueira, além de cinco deputados gaúchos e um ex-deputado. Citados também foram o presidente Michel Temer, os tucanos Aécio Neves, José Serra e Antonio Anastasia, mais o falecido Sérgio Guerra.
Cedo ou tarde, o Supremo terá de autorizar a investigação ou arquivar os pedidos do MPF. O PMDB e o PP foram sócios do PT na gestão fraudulenta da Petrobras. Pela credibilidade da Lava-Jato, na qual os brasileiros depositam sua esperança de combate à corrupção, convém que os ministros não deixem essa tarefa para o próximo século.
Aliás
O mapa da propina na Odebrecht menciona obras milionárias dos governos do Rio e de São Paulo e codinomes de pessoas beneficiadas com dinheiro de origem escusa. Preocupação para o tucano Geraldo Alckmin, em São Paulo, e para o ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB).