De nome pouco compreensível para os leigos, a Operação Greenfield, deflagrada no dia em que a Lava-Jato completou dois anos, nada mais é do que uma devassa sem precedentes nos fundos de pensão das principais estatais. Os alvos são a Funcef (dos funcionários da Caixa Econômica Federal), a Previ (Banco Brasil, a Postalis (Correios) e a Petros (Petrobras). São fundos bilionários que concentram boa parte da poupança brasileira e que estão sendo investigados por suspeita de fraude e de má gestão. O nome Greenfield é associado a negócios incipientes, o que sugere investimentos em empresas pouco sólidas ou que só existiam no papel.
No início dos anos 1990, os fundos de pensão tiveram um papel importante nas privatizações. Na venda da Usiminas, em 1991, o maior deles, a Previ, que nasceu em 1904, ficou com 14,94% das ações. Recentemente, nas concessões de aeroportos, Previ, Petros, Funcef e outras fundações entraram no negócio como parceiros de empresas privadas.
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Formados pela contribuição dos empregados e das estatais, esses fundos bancam aposentadorias, planos especiais de saúde e até financiamento de imóveis. No passado, o funcionário entrava com uma parte e a empresa com duas. A partir de 1998, adotou-se a paridade das contribuições.
Naturalmente, os fundos precisam investir em negócios que combinem rentabilidade e solidez, para garantir que o patrimônio dos associados seja preservado. Por gestão temerária, a Aerus, fundo de pensão dos empregados da Varig, quebrou deixando milhares de contribuintes a ver navios.
No caso dos investigados na Greenfield, há tempos soaram alertas de rombos bilionários, decorrência de desvios e de investimentos malfeitos. Desde o início da Lava-Jato se fala da necessidade de abrir a caixa-preta dos fundos de pensão e do BNDES.
Não deveria ser assim, mas os fundos acabam afetados pelas disputas políticas e entram no leilão de cargos. Como é o governo que indica o presidente e a maior parte da diretoria, acaba tendo controle sobre as decisões de investimentos – e aqui mora o perigo. Há fortes indícios de fraude e de direcionamento de investimentos por interesse ideológico ou por arranjos com financiadores de campanhas eleitorais.
A Postalis, por exemplo, teve um prejuízo bilionário de 2011 a 2014 e aumentou o desconto dos funcionários dos Correios para cobrir o rombo. O fundo investiu, por exemplo, em empresas de Eike Batista quando já se sabia que não eram sólidas, em papéis podres da dívida da Argentina e ações da estatal de petróleo da Venezuela, a PDVSA, que perderam valor.
Na operação desta segunda-feira, apareceu uma teia de relações que unem personagens conhecidos de outras investigações, Leo Pinheiro, ex-presidente da OAS, que estava negociando delação premiada com o Ministério Público, João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, preso em Curitiba, e dirigentes da Engevix e da W. Torre.