São gravíssimas as acusações feitas contra o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, preso na 34ª fase da Operação Lava-Jato e liberado horas depois pelo juiz Sergio Moro. Mantega é culpado ou inocente? Isso é o que a Justiça dirá, depois de analisar os indícios, as provas e a defesa do homem que por mais tempo esteve no comando da economia brasileira.
Por ora, o que se tem é mais uma etapa no cerco à cúpula do PT, a partir de um depoimento do empresário Eike Batista, a quem Mantega teria pedido, em 2012, R$ 5 milhões, supostamente para quitar contas da campanha de Dilma Rousseff em 2010. Embora Eike seja um mentiroso que enganou meio mundo com suas negociatas, não é difícil saber se desta vez falou a verdade. Basta confrontar os depósitos feitos em conta dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura com o contrato fraudulento que uma de suas empresas firmou com o casal. Por que um empresário daria R$ 5 milhões a alguém que não prestou serviço a sua empresa? Não se pode esquecer que Mônica fechou acordo de delação premiada e entregou o roteiro das tramoias que fez para receber o pagamento por campanhas do PT.
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Há outro ponto que não parece difícil de ser confirmado: a concorrência para a construção de duas plataformas de petróleo teria sido fraudada. Se o consórcio vencedor não tinha condições técnicas de vencer a licitação, uma auditoria pode apontar os furos.
A revogação da prisão pelo juiz Sergio Moro, horas depois de efetivada no Hospital Albert Einstein, deixou no ar uma dúvida legítima. Se a prisão era necessária, faz sentido o juiz revogá-la alegando questões humanitárias? A prisão foi autorizada pelo mesmo Sergio Moro no dia 16 de agosto e consumada mais de um mês depois, no exato momento em que a mulher de Mantega, que sofre de câncer, se submetia a uma cirurgia. O ex-ministro oferecia perigo em agosto e agora não oferece mais? Se o preso fosse outro, teria o mesmo benefício?
Moro agiu de ofício ao perceber que o PT estava utilizando a cirurgia da mulher de Mantega para desgastar a Lava-Jato. Justificou também que, como as ordens de prisão e busca e apreensão já haviam sido cumpridas, o risco de ocultação de provas estava afastado. O detalhe acabou tendo mais destaque do que o principal, deu argumentos a quem critica o excesso de prisões na Lava-Jato, mas não melhora em nada a situação do ex-presidente Lula e dos outros líderes petistas. Ao contrário, a entrada de Eike em cena pode ampliar o leque de investigados.
A grande delação ainda está por vir. É a de Marcelo Odebrecht e dos executivos da empreiteira. O que vazou até agora do esboço do acordo indica que Odebrecht não deixará pedra sobre pedra, porque a empresa tem o mais completo e mais antigo mapa da propina. A delação de Odebrecht tira o sono dos líderes do PT e de todos os partidos que, por décadas, recorreram a ela para financiar campanhas. A Lava-Jato já mostrou que o método era inflar contratos e, desse sobrepreço, tirar o dinheiro doado a partidos e candidatos.
Aliás
A demora do STF em se manifestar sobre os detentores de mandato, que têm foro privilegiado, como os citados na delação de Sergio Machado, contribui para a percepção de que a Lava-Jato é seletiva.