Começa na terça-feira uma das campanhas mais curtas, desafiadoras e imprevisíveis desde a redemocratização. Os candidatos vão encontrar um eleitor que a cientista política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), define como "cético, descrente e altamente crítico". Para conquistar essa pessoa desencantada com a política, os políticos terão de ser mais verdadeiros do que nunca: tudo indica que acabou-se a era das criaturas produzidas nos laboratórios dos marqueteiros e embaladas para presente em campanhas montadas a peso de ouro.
Ter uma biografia inatacável é ponto de partida para o sucesso eleitoral. A frase "rouba, mas faz", que nasceu com Adhemar de Barros e justificou, por várias décadas, a eleição de políticos notoriamente corruptos, está fora de moda.
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A criatividade será mais exigida do que nunca porque, além de proibir as doações empresariais e de limitar os gastos, a legislação eleitoral restringe a utilização de instrumentos de divulgação usados nos últimos anos, como cartazes, cavaletes e pintura de muros. Para completar, o tempo de propaganda de rádio e TV encolheu e aos vereadores restaram apenas inserções, em que pouco se poderá dizer além do nome e do número na urna eletrônica.
Poucas pessoas no Rio Grande do Sul conhecem tão bem a cabeça do eleitor gaúcho quanto Elis. O instituto que ela dirige não faz simples pesquisas de intenção de voto. Cerca o eleitor com perguntas e técnicas capazes de captar o que realmente pensa. O resultado desses estudos é um diagnóstico assustador para quem vai pedir votos a partir desta semana: a credibilidade dos partidos nunca esteve tão baixa. Escassos 5,5% dos entrevistados em uma das pesquisas do IPO citaram as legendas entre as instituições mais confiáveis – e isso que a pergunta era de escolha múltipla.
Candidatos, dirigentes de partidos e publicitários estão cientes de que, com todas as limitações financeiras e legais, esta será a eleição da internet. Nas médias e grandes cidades, todos apontam as redes sociais como decisivas na estratégia eleitoral. A questão é: como usar a internet a seu favor, se a rede é um ambiente destrutivo, infestado por zumbis que usam o anonimato como escudo para agredir sem enfrentar as consequências?
Na coluna semanal que escreve no site Coletiva.net, Elis listou, com base em pesquisas, qualidades que o eleitor espera do candidato e comportamentos que rejeita nas redes sociais. Os entrevistados afirmam que não aceitam que políticos os marquem em conteúdos digitais nas redes e desconsideram quando há publicações deles em que seus amigos são marcados. Como no mundo real, os eleitores rejeitam a troca de acusações ou ataques e curtem as postagens que mostram a realidade, seguidas de propostas concretas e objetivas de soluções para os problemas.