Com o início da Olimpíada e as atenções concentradas nas disputas por medalha, imaginava-se que o Brasil teria três semanas de marasmo na política. A impressão se desfez no fim de semana com o vazamento, em diferentes veículos, de trechos da delação premiada de Marcelo Odebrecht e de executivos da empreiteira. O PT já estava no olho do furacão desde que os dirigentes da empreiteira começaram a negociar a delação. A rodada do fim de semana atinge o presidente interino Michel Temer e seu chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, e o senador Antonio Anastasia, relator do impeachment no Senado.
Da revista Veja veio a informação de que Marcelo Odebrecht contou aos investigadores sobre um jantar no Palácio do Jaburu em que teriam sido acertadas, com Temer, doações para o PMDB, em 2014. Por essa versão, a empreiteira repassou R$ 10 milhões em espécie, dinheiro escriturado na contabilidade do "setor de operações estruturadas", também conhecido como departamento de propina. Temer e Padilha confirmam o jantar, mas sustentam que as doações da Odebrecht para o PMDB foram legais. O ministro nega ter recebido R$ 4 milhões e se defende dizendo que não era candidato em 2014, mas esse trecho da delação tem potencial para semear o pânico entre os candidatos do PMDB que receberam dinheiro da direção nacional.
Na Folha de S.Paulo, a colunista Mônica Bergamo detalhou outro anexo da delação de executivos da empreiteira, comprometedor para o ministro José Serra. Diz o documento a que a Folha teve acesso que a campanha de Serra para presidente recebeu R$ 23 milhões de caixa 2 da Odebrecht em 2010. O ministro deu a explicação padrão: que a campanha "foi conduzida em acordo com a legislação eleitoral em vigor" e que as finanças eram de responsabilidade do partido, o PSDB.
Outro tucano mencionado na delação de Odebrecht é o senador Antonio Anastasia (PSDB), que ocupa a posição estratégica de relator da comissão de impeachment no Senado. Segundo o jornalista Lauro Jardim, de O Globo, Anastasia teria recebido dinheiro de caixa 2 da Odebrecht quando foi governador de Minas. O senador diz que desconhece a acusação.
A delação dos executivos da Odebrecht deve ser homologada a qualquer momento, o que deixa o mundo político em polvorosa. Porque ela não é apenas uma das maiores doadoras de campanha. Tinha até um departamento estruturado para contabilizar a propina. E era eclética: doava para candidatos de todos os partidos, seguindo a lógica de ficar bem com quem tivesse perspectiva de poder. Registrava e guardava os comprovantes.
Mesmo que a delação atinja Temer, a situação da presidente Dilma Rousseff não melhora, porque há depoimentos de mais de um delator dizendo que a campanha dela recebeu dinheiro sujo da Odebrecht. O casal de marqueteiros Mônica Moura e João Santana, recém saído da cadeia, confessou ter recebido dinheiro no Exterior para pagar dívidas de campanha de Dilma.