O choro do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), expressado em meio a um discurso de palavras fortes direcionado aos seus rivais, ficará marcado como o símbolo do desespero que precedeu a sua queda do poder. O peemedebista, colecionador de denúncias de corrupção – duas ações penais já tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) –, apelou para a vitimização como forma de comover os colegas e eleitores que ainda lhe dão ouvidos. A renúncia à presidência do Legislativo pode ter sido a últimas das incontáveis manobras que o deputado fluminense executou ao longo do mandato para escapar da quase inevitável cassação por quebra de decoro parlamentar.
Leia mais:
Deputados derrubam decisão de Maranhão e antecipam eleição para a presidência da Câmara
Cunha renuncia à presidência da Câmara
Leia a íntegra da carta de renúncia de Cunha
A iniciativa de precipitar a sucessão de seu cargo, em tese, poderia diminuir o foco no processo de cassação, que está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O gesto tem tudo para ser inútil. O destino de Cunha deve ser mesmo a perda do mandato, já que até mesmo aliados fiéis começaram a perceber que a proximidade com o peemedebista é mais maléfica do que benéfica. O agora ex-presidente tentará interferir na discussão sobre a sucessão na Câmara, cuja eleição está marcada para a próxima semana, e emplacar alguém de sua confiança no cargo.
Os principais líderes da Casa concordam que o candidato de Cunha e do "centrão" terá de enfrentar diversos concorrentes que estarão contra o ex-presidente. Diante desse cenário e do conceito de que um presidente seja algum político de perfil moderado, que tenha trânsito entre a maioria das bancadas, as chances de a ideia de Cunha prosperar são pequenas.
Se não tirar nenhuma carta da manga, o seu futuro deve ser, em parte, idêntico ao da sua maior rival, a presidente afastada Dilma Rousseff, a quem o peemedebista combateu e ajudou a retirar do Planalto.
A grande diferença que separa Dilma e Cunha é que, apesar de ambos estarem prestes a perder o mandato e, por consequência, o foro privilegiado, o deputado é um dos principais suspeitos de envolvimento nos crimes investigados pela Operação Lava-Jato. Sem a prerrogativa de foro, os seus processos devem ir parar nas mãos do juiz Sergio Moro. Ou seja, enquanto Dilma estiver pedalando pela orla do Guaíba, para onde deve retirar-se com a confirmação do impeachment, o caminho de Cunha – e da mulher – pode conduzi-lo para a cadeia em Curitiba.
* A colunista Rosane de Oliveira está em férias.