A nova série de acusações lançadas contra o ex-tesoureiro do PT e ex-deputado federal Paulo Ferreira, preso na semana passada por suspeita de envolvimento em crimes investigados pela Operação Custo Brasil, é mais um golpe que atinge o núcleo central do partido e, desta vez, respinga na imagem da sigla no Rio Grande do Sul. Apesar de Ferreira nunca ter desempenhado papel decisivo no diretório estadual, inclusive sendo visto com reservas por vários companheiros devido à relação estreita que tinha com a direção nacional, é inegável a sua proximidade com o RS, e principalmente com o Carnaval. O segundo pedido de prisão contra Ferreira, alvo da Operação Abismo, deflagrada na segunda-feira, fragiliza e constrange ainda mais o PT.
O rol de suspeitas contra ele é extenso: além de afirmar que o ex-deputado facilitou a obtenção de propina para si e para o PT por meio de contratos da Petrobras, a investigação aponta a suposta utilização de escolas de samba para lavagem de dinheiro proveniente de suborno, o repasse de R$ 61,7 mil à madrinha de bateria do Estado Maior da Restinga e até pagamento ao dono de um blog que publicava textos favoráveis a Ferreira. A proximidade do ex-deputado com o Carnaval era tanta, que ele chegou a ser homenageado por duas escolas: Império da Zona Norte, em 2009, e Praiana, em 2016.
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As denúncias que envolvem Ferreira e seus desdobramentos são exemplos da situação insustentável a que chegou o PT. Um episódio ocorrido no fim de 2013 mostra isso de forma expressiva. Na ocasião, assim que os condenados no processo do mensalão começaram a ser presos – entre eles, José Dirceu, defendido com unhas e dentes pelo ex-deputado –, o ex-governador Olívio Dutra manifestou-se de forma crítica, dizendo que as prisões eram justas. O primeiro a se insurgir contra a opinião de Olívio foi justamente Ferreira. Em uma carta, disse que o colega de partido estava equivocado, já que o mensalão, na verdade, era uma invenção da mídia, e que Olívio não deveria falar isoladamente, "à margem das instâncias partidárias". Olívio, um político com história suficiente para expressar as suas opiniões sem pedir autorização a alguém, acabou sendo uma voz solitária naquele momento.
Um partido que cerra os ouvidos para líderes honestos e dá relevância a alguém como Ferreira, com uma reiterada postura de negar ou atribuir a conspirações os erros cometidos pelos colegas, dificilmente chegaria a outro lugar que não fosse o buraco em que se encontra.
* A colunista Rosane de Oliveira está em férias.