Nem o presidente interino Michel Temer escapou da língua ferina do companheiro Sérgio Machado, o delator que comprometeu a cúpula do PMDB e líderes de PT, PP, DEM, PSDB e PSB, em seu acordo com o Ministério Público Federal. Perto do que Machado disse sobre o dinheiro repassado a Renan Calheiros, Romero Jucá, Edison Lobão e José Sarney, a acusação a Temer poderia ser considerada branda, mas macula a imagem do homem que ocupa a cadeira número 1 da República.
A delação atinge Temer no momento em que ele precisa se firmar como substituto da presidente afastada, conquistar apoio no Congresso para aprovar medidas impopulares e afastar a desconfiança da população. Para piorar, vários dos homens de confiança do presidente interino estão na mira da Lava-Jato, citados em delações premiadas e com pedido de investigação formalizado pelo procurador-geral da República, a começar por Romero Jucá.
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De acordo com a delação, em 2012, Machado teria acertado com Temer a doação oficial de R$ 1,5 milhão de origem ilícita para a campanha da Gabriel Chalita, candidato do PMDB à prefeitura de São Paulo. O presidente interino diz que “a delação é absolutamente inverídica”.
Os números constantes da delação de Machado são superlativos. Se o delator se comprometeu a devolver R$ 75 milhões, pode-se imaginar o quanto desviou nos 11 anos em que presidiu a Transpetro. O que vai restituir é apenas uma parte do que ficou para ele e para a família. Só a propina que diz ter repassado ao PMDB passa de R$ 100 milhões. Um quarto desse valor seria para o senador Edson Lobão, que exigia uma fatia maior por ser ministro das Minas e Energia. Para Renan Calheiros, o ex-presidente da Transpetro diz ter repassado R$ 32 milhões, somando uma mesada com as doações de dinheiro de origem ilícita para a campanha. Para a família Sarney, Machado diz que repassou R$ 18,5 milhões. Para Romero Jucá, as vantagens indevidas somariam R$ 21 milhões – sendo R$ 4,2 milhões em doações oficiais de empreiteiras.
A delação do ex-presidente da Transpetro terá de ser cruzada com a de outros delatores para fechar as pontas que ainda estão desamarradas.