Quem faz acordo com o Ministério Público para contar o que sabe em troca da redução de pena ou do desbloqueio de bens não gosta da palavra delação. Prefere o termo "colaboração premiada", como está na Lei 12.850/2013, a Lei de Combate às Organizações Criminosas, sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 2 de agosto de 2013. É um instrumento usado também em outros crimes, mas que se popularizou com a Operação Lava-Jato e permitiu abrir a caixa de Pandora da política brasileira. Os procuradores que negociam também evitam as palavras delação e delator. Os homens e mulheres que entregam seus parceiros em organizações criminosas são "colaboradores".
A primeira delação na Lava-Jato homologada pelo Supremo Tribunal Federal, em setembro de 2014, foi a de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, que entregou políticos do PP. De lá para cá, as delações se multiplicaram. Já são 52 fechadas com a Justiça Federal do Paraná ou com o Supremo Tribunal e outras tantas em fase de negociação. O álbum de figurinhas dos delatores é eclético: tem doleiros, políticos, empresários, ex-diretores da Petrobras e funcionários menos graduados, testemunhas de negociatas e de pagamentos feitos por baixo dos panos.
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Das recentes, as mais reveladoras foram as dos personagens das fotos ao lado: Nestor Cerveró, Delcídio Amaral e Sérgio Machado. Preso por tentar impedir a delação de Cerveró, Delcídio comprometeu antigos companheiros do governo, incluindo Dilma e o ex-presidente Lula, e políticos de vários partidos. Com gravações, planilhas e depoimentos, Sérgio Machado comprometeu a cúpula do PMDB e acabou derrubando três ministros do governo interino de Michel Temer.
Das delações que estão por vir, nenhuma é mais esperada – e mais temida – do que a do "príncipe" Marcelo Odebrecht, por ser a Odebrecht uma das maiores empreiteiras do país e, ao longo dos anos, a principal doadora de recursos para campanhas eleitorais.