Oito meses de manobras não foram suficientes para o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, alcançar o objetivo de escapar do Conselho de Ética. Na votação do parecer do relator Marcos Rogério, Cunha foi enfim derrotado por um placar de 11 a nove, graças ao voto até então mantido em segredo da deputada Tia Eron (PRB-BA) e à traição de Wladimir Costa (SDD-PA). O voto de Costa contrariou o discurso que o deputado havia feito minutos antes, em defesa de Cunha, e se enquadra na categoria "Maria vai com as outras", porque só foi dado depois que se configurou a vitória do sim.
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A fortaleza de Eduardo Cunha na Câmara só começou a ruir porque suas bases foram solapadas pelo Ministério Público Federal e pelo Supremo Tribunal Federal. Afastado da presidência, exilado na residência oficial de presidente da Câmara e bombardeado por sucessivos pedidos de investigação de seu envolvimento em esquemas de pagamento de propina na Petrobras, o poderoso Cunha encolheu. Na mesma tarde em que sofreu a derrota no Conselho de Ética, outro golpe abalou as estruturas da família Cunha: o juiz Augusto César Gonçalves, da 6ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, bloqueou os bens do deputado, de sua mulher, Cláudia Cruz, e das empresas do casal em que o nome de Jesus aparecia como uma espécie de sócio celestial. Cunha registrou a propriedade de todos os domínios imagináveis na internet com o nome de Jesus.
O Conselho de Ética não é o fim da linha, mas a derrota tem um forte valor simbólico e político. É muito mais fácil manobrar em um colegiado de 21 deputados do que na Comissão de Constituição e Justiça, com 65 membros, ou no plenário, com 513. Fragilizado pela avalanche de indícios contra ele, réu em ação no Supremo Tribunal Federal e agora sem utilidade para a oposição, que precisou dele para fazer andar o processo de impeachment, Cunha tornou-se descartável. Dificilmente escapará da cassação em plenário, o que significa perder o foro privilegiado e ter de responder ao juiz Sergio Moro, ao lado da mulher e da filha, que torraram fortunas em lojas de luxo da Europa e dos Estados Unidos, sem se preocupar em saber de onde vinha o dinheiro.