Tão surpreendente quanto a nomeação do advogado Fabiano Silveira para o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle foi o presidente interino Michel Temer ter esperado quase 24 horas para afastá-lo do cargo. Os áudios mostrados pelo Fantástico (com alguns trechos inaudíveis) podem não ser tão comprometedores quanto os que derrubaram o ministro do Planejamento, Romero Jucá, mas as circunstâncias recomendariam o afastamento de Silveira no domingo à noite ou no início da segunda-feira, por ocupar um cargo incompatível com o papel de leva e traz do senador Renan Calheiros, condição da qual emerge nas gravações de Sérgio Machado.
Titular de um ministério criado para substituir a Controladoria-Geral da União, Fabiano Silveira deveria estar acima de qualquer suspeita. Afinal, controle de contas é coisa séria. A CGU, que já teve Waldir Pires e Jorge Hage no comando, foi extinta na medida provisória que reestruturou o governo. Em tese, o ministério faria seu papel e um pouco mais. Com status de ministro, Silveira falaria de igual para igual com os colegas e teria autoridade para cobrar correções de rumo. Flagrado no que definiu como visita ocasional a Renan, revelou aos que não conheciam quais eram suas credenciais para estar no governo.
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Fabiano Silveira não era ministro quando, segundo o ex-presidente da Transpetro, endossou as críticas ao Judiciário e ao Ministério Público Federal, em relação aos investigados da Lava-Jato. E deu orientações a Renan para se proteger do procurador-geral Rodrigo Janot. Tudo natural para um advogado, não fosse ele membro do Conselho Nacional de Justiça, nomeado há quatro anos como representante do Senado.É aí que mora o problema: o ministro da Transparência integrava um órgão de fiscalização do Poder Judiciário. Como bem lembra o advogado Jayme Eduardo Machado, "é grave porque são os membros do CNJ, entre os quais ele se inclui, que julgam, por exemplo, condutas de membros do Poder Judiciário – de Sergio Moro, inclusive – que sofram representações por quem esteja desconforme com a sua conduta".
No início da noite, Silveira enfim entregou a carta de demissão. Na versão oficial, foi uma "exoneração a pedido". Na prática, Temer entregou o segundo anel para tentar salvar os dedos.