Durou cinco horas a fantasia dos aliados da presidente Dilma Rousseff de ver o processo de impeachment ser barrado no Senado por um canetaço do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA). A decisão de anular as três sessões em que o impeachment foi votado chegou a ser comemorada pelos petistas e seus aliados do PC do B como se fosse a pá de cal no impeachment.
De uma hora para outra, o limitado deputado Waldir Maranhão passou a ser tratado como estadista, apesar dos argumentos esdrúxulos que usou para anular a votação que deu 367 votos pela abertura do processo de impeachment. Um a um, o presidente do Senado, Renan Calheiros, derrubou os argumentos de Maranhão, que na verdade são as alegações da Advocacia-Geral da União. Uma delas chega a ser risível: que a comunicação ao Senado deveria ter sido feita por resolução e não por ofício. Renan lembrou que em 1992, no impeachment de Collor, a comunicação foi feita por ofício. E ninguém reclamou.
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Outra justificativa de Maranhão revela que os defensores da presidente perderam a tramontana: a contestação às declarações antecipadas de voto. Ora, impor lei da mordaça a deputados e senadores é uma heresia. Quer dizer que os aliados do governo podem expor sua posição contrária ao impeachment e os adversários não?
Só o desespero diante da derrota iminente explica essa aliança de ocasião dos governistas com um deputado do baixo clero do PP, que de repente, virou presidente da Câmara. Costurada pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), que viajou de carona com o presidente interino da Câmara, e pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, que jantou com os dois, a anulação das sessões foi uma tentativa de ganhar tempo. Não adiantou, porque Renan simplesmente decidiu desconhecer a decisão de Maranhão e mandou tocar o processo adiante, porque já cumpriu várias etapas no Senado e está pronto para ir a votação.
– Nenhuma decisão monocrática pode se sobrepor à decisão colegiada – disse Renan, depois de qualificar o ato de Waldir Maranhão como "um atentado à democracia".
Este é o xis da questão: um presidente interino resolve anular as sessões dos dias 15, 16 e 17 de abril, sem consultar o plenário. E se transforma no ídolo dos governistas ao bancar uma decisão que nem ele soube responder. A entrevista organizada para prestar esclarecimentos transformou-se num monólogo em que Maranhão, visivelmente nervoso, tentou explicar seu ato, mas não permitiu que os jornalistas fizessem perguntas.
A presidente Dilma Rousseff tem razão quando diz que o processo contra ela começou como um ato de vingança do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, mas, desde o acolhimento, o requerimento cumpriu todo o rito previsto na Constituição. Os aliados do governo vão exercer, até o último minuto, o legítimo direito de espernear, mas com chances remotas de sucesso.