Nos últimos meses, o que mais se ouviu dos homens próximos de Michel Temer foi que não havia espaço para sequer pensar em aumento de impostos. Menos de 24 horas depois da posse, o discurso mudou: pelo menos três ministros disseram que, talvez, seja inevitável aumentar impostos para equilibrar as contas, mas que, se isso ocorrer, será temporário. A CPMF, criada no governo Fernando Henrique Cardoso, também era temporária, mas só acabou na gestão de Lula, pela incapacidade de negociar a renovação com o Congresso.
O sinal mais evidente de que o governo Temer pensa em ressuscitar a CPMF é a declaração do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que o projeto encaminhado por Dilma não será retirado do Congresso. O discurso para aprovação deste (ou de outro imposto) está sendo construído nos mesmos moldes do que o governador José Ivo Sartori e seus aliados usaram para aprovar o aumento do ICMS: da herança maldita que obriga a fazer o que, na campanha (ou no pré-impeachment), se prometia não fazer.
Leia mais:
"Prioridade é o equilíbrio fiscal", diz Meirelles, sem descartar volta da CPMF
O discurso de Meirelles em oito tópicos
Meirelles defende "tornar claras as contas" e não descarta aumentar impostos
Será interessante acompanhar a mudança de lado quando o assunto CPMF estiver em discussão no Congresso, se essa for a opção do governo: petistas que a defendiam com unhas e dentes dizendo que agora não pode, aliados de Temer sustentando que agora é necessário.
Como a CPMF depende do Congresso, é possível que Meirelles opte por outras receitas que podem ser obtidas com um canetaço, como a elevação da contribuição sobre os combustíveis (Cide) e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Seria uma forma de poupar energia para gastar com o Congresso na aprovação das reformas impopulares, como a trabalhista e a previdenciária.
Pelas primeiras manifestações da equipe econômica, vem aí a exigência de idade mínima para a aposentadoria, com regras mais duras do que o fator previdenciário que a oposição derrubou na época das pautas-bomba, para desestabilizar Dilma. Justiça seja feita, o PT entrou na mesma canoa irresponsável, porque não queria ficar mal com os trabalhadores. A reforma da Previdência também deverá contemplar alterações drásticas no sistema de pensões, que é um dos mais generosos e insustentáveis do mundo. Mas não pode ser só no INSS, porque o rombo maior está no setor público.