Por falta de segurança, a audiência pública na Assembleia Legislativa sobre a CPI da Câmara dos Deputados que investiga ilegalidades no Incra e na Funai foi suspensa. Antes de iniciar a sessão, programada para as 13h desta segunda-feira no teatro Dante Barone, índios e pessoas ligadas às comunidades quilombolas ocuparam o palco em protesto ao inquérito.
Segundo a assessoria do deputado estadual Elton Weber (PSB), os manifestantes o agrediram com empurrões e chutes nas pernas quando ele seguia do Dante Barone para o plenarinho da Assembleia. Seria na sala, localizada no terceiro andar, que os debatedores e outros parlamentares continuariam a audiência pública para tratar sobre a CPI.
Conforme Weber, índios e quilombolas formaram um corredor para pressionar os deputados que passavam no local. Foi nesse momento que o paletó usado pelo parlamentar foi rasgado. Outros integrantes da Mesa já estavam no plenarinho e não foram agredidos. A reunião foi cancelada.
Morador de Nova Petrópolis, Elton Weber viajará a Brasília nesta noite com um casaco emprestado de um assessor parlamentar.
O movimento indígena contesta a versão de Elton Weber e afirma que os manifestantes não agrediram o deputado. Segundo o representante dos índios, Merong Tapurumã, Weber criminalizou o ato do grupo na Assembleia:
– Eles não queriam a presença dos índios na audiência. A intenção é criminalizar os indígenas usando e manipulando os pequenos agricultores. Queremos que os pequenos agricultores nos devolvam as terras, mas que sejam indenizados pelo governo.
– Temos o direito de nos defender. As nossas reivindicações vêm de mais de 500 anos, reivindicamos o nosso território de volta – concluiu Merong.
Presidente da CPI da Funai e do Incra, o deputado federal Alceu Moreira (PMDB) pediu a investigação do fato à Polícia Federal e solicitou as imagens das câmeras de segurança à Assembleia.
"Como presidente da CPI, esclareço que ela é um instrumento de investigação e apuração de irregularidades. Desde o começo dos seus trabalhos estão sendo apuradas inúmeras denúncias de fraudes em demarcações e no repasse de recursos, tanto pela Funai como pelo Incra. Hoje, a comissão apresentaria um balanço do que foi feito até aqui e ouviria todas as partes interessadas, de forma democrática e transparente", afirmou Moreira em nota.
Participavam do debate os deputados estaduais Sérgio Turra (PP), Vilmar Zanchin (PMDB), Zilá Breitenbach (PSDB) e os federais Alceu Moreira (PMDB) e Luiz Carlos Heinze (PP).
Segundo apurado até agora pela CPI, há indícios de fraudes na demarcação de terras indígenas no Norte do Rio Grande do Sul. A Justiça determinou a paralisação de alguns processos de reserva, principalmente nas regiões de Erechim e Passo Fundo. A comissão já ouviu cerca de 50 denúncias que somam 45 horas gravadas de depoimentos.
A reportagem tentou o contato com integrantes do protesto, mas até agora não obteve retorno.