O presidente estadual do PT, Ary Vanazzi, afirmou nesta quarta-feira que a militância do partido continuará "na luta" caso o impeachment da presidente Dilma Rousseff seja aprovado no Congresso. Em entrevista à coluna, Vanazzi diz que haverá ocupações de terras, acampamentos, marchas e organizações de debates políticos.
– Vamos resistir e é por isso que vamos continuar a mobilização social – explica o presidente do PT imaginando o cenário caso o afastamento seja aprovado.
Leia parte da entrevista com Ary Vanazzi:
Qual será o cenário político caso o impeachment passe na Câmara no domingo? Em uma entrevista, o senhor falou que haverá ocupações de prédios públicos, de terrenos.
Estamos defendendo a democracia contra o golpe porque, no nosso entendimento, o golpe que está se dando hoje é rasgar a Constituição. Se perdermos, não vamos ficar quietos. A gente vai continuar na organização, na luta, vamos ocupar terras como sempre fizemos. Vamos fazer o debate político, uma luta política.
Não será pacífico?
Evidentemente que não vai ser pacífico, porque a burguesia nos prega um golpe político desses. O argumento para tirar Dilma não é jurídico. É político. Não vamos perder direitos. A proposta da aliança entre PMDB e PSDB é o documento Uma Ponte para o Futuro, do PMDB, que dá autonomia ao Banco Central. Vamos resistir e é por isso que vamos continuar a mobilização social, a mobilização política para enfrentar esse debate.
Por meio da militância e dos movimentos sociais?
Movimentos sociais, partidos, campos de esquerda. Vamos tentar evitar que se dê autonomia ao Banco Central, que se tire dinheiro da educação. Isso envolve a discussão em torno da reforma agrária, reforma urbana. Não vamos permitir a diminuição de recursos do Minha Casa Minha Vida. Vamos resistir, vamos ampliar a luta política.
Além das ocupações, o que mais pode ocorrer?
Vai ter acampamento, marchas. Serão várias formas e ações políticas que vamos desenvolver.
O Frei Betto, que participou do governo Lula, diz que o PT só procura a militância e os movimentos sociais para apagar incêndios. O senhor concorda?
Não. Tivemos um período de governo no Brasil no qual, por não ter feito a reforma estrutural do Estado pelo ponto de vista jurídico, e isso temos de fazer um mea-culpa, os movimentos sociais acabaram cumprindo parte do papel do Estado na política pública. Então, os movimentos tiveram em execuções de políticas. Hoje, frente ao movimento de rearticulação neoliberal na América Latina, há remotivação na militância que viu seus direitos ameaçados. Não queremos retrocesso da política pública. Por isso, não terá paz no país, porque, primeiro, se dá um golpe na democracia brasileira. Não se permite que o governo termine o mandato, gostando ou não se gostando dele. Segundo, que há uma rearticulação política que tem a ver com três questões, na minha opinião. A primeira: esse golpe está se dando porque há uma decisão e um desejo de uma boa parte dos parlamentares que são favoráveis ao golpe de acabar com o combate à corrupção do país. O fato de o Paulo Maluf ter uma opinião na semana passada e, depois que ele saiu da lista da Interpol, ter votado a favor do impeachment, mostrou que tem, sim, questões que ultrapassam a questão da política.