Tal é a certeza da vitória na votação deste domingo, que os aliados do vice-presidente Michel Temer trocaram a preocupação com a numerologia pela discussão da montagem do futuro governo e das primeiras medidas a serem anunciadas. Nem a instabilidade do placar, que na noite de sexta-feira não mostrava a vantagem alardeada pela oposição, diminuiu o otimismo da tropa de choque do vice-presidente.
Aos mais próximos, Temer antecipou que pretende reduzir o número de ministérios, para ganhar a confiança da população. A meta era ficar em 20 pastas – mesmo número de prédios da Esplanada dos Ministérios –, mas já se chegou à conclusão de que, o mais provável, é atingir 22.
Embora Temer não tenha entrado em detalhes com seus interlocutores, as linhas gerais já estão definidas: se chegar à Presidência, haverá um núcleo estratégico formado por técnicos e políticos definidos como de “primeira grandeza”. Nesse primeiro círculo, estarão a Casa Civil, os ministérios da área econômica (Fazenda, Planejamento e Banco Central), Justiça e Defesa. No segundo anel, estarão Saúde, Educação e Infraestrutura, provavelmente unindo Transportes, Portos e Aviação Civil. São pré-candidatas à extinção secretarias com status de ministério, que podem virar departamentos.
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Se aprovada a admissibilidade do impeachment neste domingo, Temer terá 20 dias para montar a reforma administrativa que pretende anunciar assim que o Senado aprovar a abertura do processo e determinar o afastamento da presidente Dilma Rousseff por até 180 dias. Mesmo se tratando de uma interinidade, Temer vai anunciar no primeiro dia uma nova estrutura de governo, já com os nomes dos ministros.
Uma das maiores preocupações do vice-presidente é montar uma equipe sintonizada na área econômica, para evitar conflitos como os que marcaram o relacionamento entre Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento), em 2015.Os dois terão de falar a mesma língua.
– O ministro da Fazenda precisa ser alguém que o mundo olhe com respeito, um nome sobre o qual não seja necessário dar explicação – resume um interlocutor de Temer, usando o mesmo critério para o presidente do Banco Central.
A missão número 1 do ministro da Fazenda será animar a economia e reconquistar a confiança do mercado. As primeiras medidas do ajuste fiscal de um eventual governo Temer serão anunciadas no dia seguinte à posse. O corte nas despesas de custeio deve incluir convênios com organizações não governamentais que floresceram nos 13 anos de governo petistas.
Milhares de petistas que ocupam cargos de confiança no governo Dilma terão de procurar emprego se ela for afastada, mesmo em caráter temporário. Temer não pretende esperar o julgamento para demitir. Essa medida, que ninguém admite publicamente, terá forte efeito nas finanças do PT, que tem boa parte da sua receita oriunda das contribuições dos filiados que ocupam cargos públicos.