A longa sexta-feira de discursos na comissão do impeachment confirmou as previsões de que Dilma será julgada pelo conjunto da obra e não pelas pedaladas fiscais, crime a ela atribuído no parecer do relator Jovair Arantes. Os deputados de oposição falam das manobras fiscais que embasam o pedido de afastamento, mas colocam toda a ênfase no que é mais compreensível para a população: a corrupção, as delações premiadas, as dificuldades econômicas, o desemprego.
Repetitivos, os discursos antecipam o resultado da votação marcada para segunda-feira: a comissão aprovará com folga o relatório de Jovair, que sugere o julgamento de Dilma pelo Senado. No plenário da Câmara, também está claro que a maioria votará com o relator. Mas a maioria não basta. A oposição precisa de 342 votos para que o processo não morra na Câmara. Se conseguir os 172 votos, o governo soltará foguetes comemorando a vitória, mas o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, poderá tirar da manga o pedido de impeachment feito pela Ordem dos Advogados do Brasil, ou um dos outros oito, e recomeçar a ciranda.
Leia mais:
Vice-líder do governo já reconhece derrota em comissão
Dilma fala sobre opositores e em "afronta à democracia"
Cardozo é muito bem pago para defender governo, diz relator
O governo joga na Câmara a batalha decisiva. Se o impeachment passar no plenário, com dois terços dos votos, será praticamente impossível barrar no Senado, onde a decisão se dá por maioria simples. Iludem-se os governistas imaginando que a vida de Dilma será mais fácil no Senado, por estar na presidência o aliado Renan Calheiros.
Em minoria na comissão, os defensores do governo repetem o argumento de que Dilma não cometeu crime de responsabilidade e que impeachment, nessas condições, é golpe. Nenhum dado novo que seja capaz de virar voto. Os dois lados discursam para as câmeras de TV e para a História. Sabem que na comissão o jogo está jogado.
O fato mais relevante da sexta-feira não foi a maratona de pronunciamentos exaltados, alguns beirando a histeria. Foi a reunião da alta cúpula do PSDB em São Paulo, para unificar o discurso em favor do impeachment. Com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à frente – e o senador Aécio Neves sentado à sua direita –, os tucanos se reuniram no Palácio dos Bandeirantes para discutir o apoio do partido ao possível governo de Michel Temer e o caminho para o PSDB retomar o poder numa futura eleição.
– Chegou a hora de dar um basta nisso tudo. Não dá mais para ter dúvidas. Por mais penoso que seja interromper um mandato, mais penoso é ver o Brasil se esfacelar – disse FHC aos jornalistas.
Em São Paulo, Aécio participou de um ato da Força Sindical e lembrou que o impeachment não era a primeira opção da maioria dos tucanos. Que o PSDB preferia a derrubada da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral, e a realização de nova eleição, mas hoje o partido "curva-se à necessidade" de tirar a presidente do cargo:
– Não se sabe o que acontecerá no TSE, nem quando. O impeachment está nas nossas mãos. É a possibilidade de um distensionamento.