Um dia depois do vazamento do áudio em que o vice-presidente Michel Temer fala como se o impeachment já tivesse sido aprovado, a presidente Dilma Rousseff botou para fora todos os rancores acumulados ao longo dos últimos meses na tempestuosa relação entre os dois. Diante de professores e alunos convidados para um dos atos de apoio ao governo, que viraram rotina nos últimos dias, a presidente chamou Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de conspiradores e de "chefes do golpe". Não citou nomes, mas ninguém teve dúvida de que se tratava dos dois principais expoentes do PMDB.
Com expressão de raiva no rosto e vários tons acima dos últimos discursos, Dilma repetiu que "há um golpe de Estado em andamento":
– Ontem, utilizaram a farsa do vazamento para difundir a ordem unida da conspiração. Agora, conspiram abertamente à luz do dia para desestabilizar uma presidente legitimamente eleita. Ontem, ficou claro que existem, sim, dois chefes do golpe que agem em conjunto e de forma premeditada.
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O discurso incluiu o relator da comissão de impeachment, Jovair Arantes, acusado de produzir "o instrumento de uma fraude jurídica e política", mas as palavras mais duras foram endereçadas a Temer e Cunha:
– Não sei direito quem é o chefe ou o vice-chefe. Um deles é a mão, não tão invisível assim, que conduz, com desvio de poder, o processo de impeachment. O outro esfrega as mãos e ensaia a farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse. Cai a máscara dos conspiradores.
Dilma tem motivos de sobra para estar tensa. Em 24 horas, testemunhou a aprovação do parecer de Jovair Arantes na comissão do impeachment, perdeu o apoio do PP e do PRB e viu o PR se dividir. A preocupação com o placar é tanta, que três ministros do PMDB deixarão os cargos no fim de semana, não porque o partido aprovou a saída do governo, mas para votar contra o afastamento.
Na guerra de números, os dois lados cantam vantagem: a oposição alardeia que já tem 360 votos e o governo anuncia que barrará o impeachment com pelo menos 200 votos. A Câmara tem 513 deputados. Para aprovar a continuidade do processo, são necessários 342 votos.