Sejamos sinceros: alguém de fato acredita que a presidente Dilma Rousseff está ameaçada de perder o mandato pelas pedaladas fiscais? É claro que não. As pedaladas fiscais são o argumento jurídico usado para embasar o pedido de impeachment. Jamais teriam sido invocadas se Dilma ostentasse os índices de popularidade que tinha no início do primeiro mandato. Elas são o pretexto para o enquadramento, não o motivo principal.
Dos líderes empresariais aos caciques da oposição, o que mais se ouve é que Dilma deve ser afastada "porque perdeu as condições de governar". A esse argumento, somam-se outros da mesma família, dependendo do interlocutor. São citados, não necessariamente nesta ordem, a corrupção na Petrobras, as delações premiadas de presos na Operação Lava-Jato, a começar pelo senador Delcídio Amaral, a compra superfaturada da refinaria de Pasadena, a desorganização das contas públicas, o desemprego, a tentativa de burlar a Justiça nomeando o ex-presidente Lula ministro da Casa Civil para escapar das garras do juiz Sergio Moro.
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Pedaladas? Ah, sim. É considerado crime de responsabilidade atentar contra a lei orçamentária, mas aí se entra no terreno dos questionamentos feitos pela defesa. E não era crime de responsabilidade em outros governos? Não é isso o que os governadores fazem quando usam depósitos judiciais de terceiros para pagar contas que a receita não cobre? Não foi pedalada o que fez Germano Rigotto ao pagar o 13º salário dos servidores com um empréstimo do Banrisul, tomado em nome do funcionário, já que o Estado esgotara sua capacidade de endividamento?
Foi por achar que seria considerado pedalada que o governador José Ivo Sartori fez o mesmo em 2015 mas não mencionou o Banrisul no projeto encaminhado à Assembleia. Apenas fixou uma indenização pelo atraso no 13º salário, por acaso equivalente ao juro cobrado do Banrisul, que imediatamente abriu linha de crédito para os servidores, com pagamento em seis vezes, nas mesmas datas em que o governo pagará quem não tomou o financiamento.
Dilma está prestes a ser julgada porque seu governo vai mal e porque na presidência da Câmara está um inimigo, o deputado Eduardo Cunha. Pedidos de impeachment são corriqueiros no governo federal e nos Estados, mas acabam no arquivo por decisão do presidente do Legislativo, que não precisa sequer justificar a decisão. Para acatar um pedido é preciso que haja indício de crime de responsabilidade. Para que siga adiante, essa condição precisa ser combinada com pressão popular e clima político desfavorável ao governante.