O dia 31 de março foi escolhido a dedo para a nova rodada de manifestações contra o impeachment e em favor da democracia. Dispostos a associar a data ao golpe de 1964, para dizer que a presidente Dilma Rousseff está sendo vítima de um processo semelhante ao que tirou João Goulart do poder, o PT, a CUT e outros movimentos sociais reuniram milhares de pessoas nas principais capitais brasileiras. Nas faixas, nos cartazes e nos balões, a mesma frase repetida pelos militantes e simpatizantes do governo de Norte a Sul: "Não vai ter golpe".
O recado é o mesmo da manifestação de 18 de março: mesmo com a popularidade em baixa, Dilma não está sozinha, como Fernando Collor estava quando caiu, em 1992. A ofensiva nas ruas é combinada com intensas movimentações de bastidores, na tentativa de recompor a base do governo, desfalcada com a saída – aprovada mas ainda não consumada – do PMDB. A meta é garantir os 172 votos necessários para barrar o impeachment na Câmara.
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A barulhenta saída do PMDB do governo perdeu impacto com a desobediência dos ministros, que não se mostram dispostos a deixar os cargos, e com a declaração do senador Renan Calheiros, de que o partido se precipitou.
Mesmo que o número de participantes tenha sido inferior ao dos que no dia 13 de março protestaram contra o governo, a adesão é significativa para um governo que, de acordo com a última pesquisa do Ibope, tem 69% de reprovação. As imagens captadas em todos os Estados e no Distrito Federal mostram a capacidade de mobilização dos movimentos alinhados com o Planalto.
Essa prática de arregimentação leva o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, a prever o agravamento dos conflitos sociais em caso de aprovação do impeachment. Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, Marco Aurélio disse que o afastamento da presidente "não fará o Brasil o país dos sonhos":
– Hoje, temos dois segmentos aguerridos. Evidentemente, quem assumir a cadeira terá a oposição acirrada do PT. Poderíamos ter o agravamento de conflitos sociais e isso não interessa à nacionalidade.
Para alertar que a situação ruim de hoje pode piorar, Marco Aurélio citou uma frase do escritor John Steinbeck, no livro O Inverno da Nossa Desesperança: "A escuridão é uma quando nenhuma luz ainda foi acesa, mas, quando uma luz se apaga, fica mais escuro do que se ela jamais tivesse brilhado".
O temor do ministro é procedente. A guerra travada nas redes sociais chegou às ruas, com aumento da intolerância de parte a parte. O clima se tornou tão belicoso, que, seja qual for o resultado na votação do impeachment, o lado perdedor dificilmente se conformará com o desfecho. O presidente do PT, Rui Falcão, tem dito uma frase que soa como ameaça: "Queremos a paz, mas estamos prontos para a guerra".