Com o diálogo cortado e sem disposição para trocar e-mails, cartas ou simples mensagens pelo WhatsApp, a presidente Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, agora brigam pelos jornais estrangeiros. Em desvantagem com as últimas reportagens de importantes veículos dos Estados Unidos e da Europa, Temer resolveu abrir a agenda para os correspondentes estrangeiros. Ao The Wall Street Journal, bíblia dos investidores, disse que é perturbador para ele e para a Vice-Presidência da República ser chamado de chefe do golpe por Dilma.
Temer disse ao jornal americano que está pronto para assumir o governo caso o afastamento de Dilma seja aprovado e que já tem nomes para seu possível ministério.
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O vice-presidente pretendia ficar em São Paulo enquanto Dilma estivesse em Nova York, na conferência do clima, mas foi orientado pela segurança a viajar para Brasília. Antes, deu entrevistas a jornalistas estrangeiros rebatendo o discurso da presidente de que ela esteja sendo vítima de um golpe. Lembrou que o processo de impeachment está previsto na Constituição.
A equipe de Temer administra a fila de pedidos de contato com parcimônia, para tentar neutralizar as declarações de Dilma, feitas em entrevistas coletivas, e que resultaram em desgaste da imagem do vice.
Ao Financial Times, Temer reafirmou:
– Não há golpe, de maneira alguma, ocorrendo aqui no Brasil. Vários ministros do Supremo Tribunal Federal disseram que o possível impeachment da presidente da República não representaria um golpe. É um processo constitucional.
Depois das rápidas entrevistas que concedeu para apagar o incêndio provocado pelo vazamento do discurso que faria após a aprovação do impeachment, Temer fez um voto de silêncio. Não se manifestou nem domingo, quando a Câmara aprovou a autorização para o Senado investigar a presidente. Recusou pedidos de entrevistas e mandou sua assessoria dizer que só falará depois que o Senado votar a admissibilidade do impeachment.
Nas redes sociais, a última manifestação havia sido no sábado, para rebater acusações de Dilma de que, se assumir o poder, cortará programas sociais como o Bolsa-Família e o Minha Casa Minha Vida.
O voto de silêncio foi quebrado diante da constatação de que Dilma estava ocupando espaço na mídia internacional. Com a decisão da presidente de ir a Nova York para a conferência do clima e fazer um discurso para denunciar o que considera um golpe, Temer resolveu atender aos telefonemas dos jornalistas Paulo Trevisani, do The Wall Street Journal, e Joe Leahy, do Financial Times.
Dependendo do que Dilma disser nesta sexta-feira na ONU, o vice-presidente poderá fazer novas manifestações. Entre os aliados de Temer, são unânimes as críticas à decisão da presidente de ir a Nova York. A avaliação é de que falar “golpe” prejudica a imagem externa do Brasil e não melhora, em nada, sua situação no julgamento no Senado.