Tipo assim, professor Moreno? Sei que a língua é viva e que, para não sofrer, preciso me desapegar das regências, do cuidado com transitivos e intransitivos. Que devo esquecer o sentido das palavras, flexibilizar, aceitar que o empobrecimento do vocabulário é o ciclo da vida e não consequência natural da falta de leitura e da substituição das palavras por essas figurinhas conhecidas por emoticons. Mais do que qualquer outro mistério nesse processo, intriga-me a ascensão de "tipo" à categoria de rainha das palavras.
Começou com "tipo assim" nas conversas dos adolescentes, perdeu o apêndice e se intrometeu nas frases de meio mundo, como um Aedes aegypti do idioma. Preciso perguntar ao professor Claudio Moreno, mestre dos mestres, como se explica a popularidade do tipo. Minha primeira lembrança de "tipo assim" é da atriz Heloísa Perissé interpretando a Tati, uma adolescente chatinha, nas noites do Fantástico, há alguns anos. Depois meus filhos, dentro de casa, e os amigos deles, universitários a quem tenho o prazer de dar carona sempre que possível. Enquanto cumpro meu papel de "motorista de escolar" ou de "uber da balada", faço cálculos mentais para ver quantas vezes por minuto a palavra tipo flutua no meio das frases.
O tipo já chegou ao rádio, na voz de repórteres, apresentadores, entrevistados. De todas as idades. Preciso confessar que acabei contaminada. Com frequência, me flagro usando tipo com assustadora naturalidade _ e preciso me policiar para não chocar os ouvintes do Gaúcha Atualidade com essa muleta irritante como "então", "assim" e "veja bem".
Minha coleção de implicâncias é extensa. No rádio e no jornal, fico passada com os colegas que usam e abusam da palavra "idoso". Sim, Claudia Tajes, eu também não consigo compreender por que esses meninos e meninas insistem em dizer "um idoso de 70 anos foi assaltado", "uma idosa de 64 anos foi atropelada". Pergunto se chamariam Caetano Veloso, Hillary Clinton e Catherine Deneuve de idosos. A resposta é sempre a mesma: a lei diz que qualquer pessoa com mais de 60 anos é idosa. Existe até Estatuto do Idoso. Ok. Terceira idade é pior. Melhor idade, uma aberração – a não ser que estejamos falando dos 20 anos.
Outra coisa que ainda não consegui assimilar, e que talvez seja o sinal mais evidente das rugas no cérebro: o desprezo generalizado por essas partículas antes tão importantes para a compreensão de um texto, o "se" e o "me". Quem ainda se importa com ênclise, próclise e mesóclise? Dias depois da tragédia de Mariana, os colegas do Timeline entrevistaram uma das atrizes mais queridas do Brasil, a Mariana Ximenes. Ela disse mais ou menos assim.
– Como eu chamo Mariana, convidaram para gravar uma mensagem de apoio ao povo de Mariana...
Ela chama Mariana? Não. Ela se chama Mariana, como a cidade afetada pela lama da Samarco. Por fim, professor Moreno, me diga se sou obrigada a aceitar que os repórteres e comentaristas esportivos falem daquela tarde "em que o Brasil perdeu da Alemanha" ou se os times ainda ganham de e perdem para.