As manifestações previstas para este domingo estão entre os fatores decisivos para o futuro da presidente Dilma Rousseff. Não são o único, mas, combinadas com os demais ingredientes que fervem no caldeirão do processo de impeachment, devem fazer da segunda-feira um dos dias mais dramáticos no Palácio da Alvorada. Ninguém derruba um presidente no grito. Para que o impeachment prospere, é preciso, antes de tudo, que se caracterize o crime de responsabilidade. Como o processo é político, a definição de crime de responsabilidade se transforma em abstração.
Para ilustrar o peso da voz das ruas, em 1992, no início da discussão sobre o impeachment de Fernando Collor, o então presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, disse uma frase que se mostraria profética:
– O que o povo quer, esta Casa acaba querendo.
A situação de Dilma difere da de Collor porque não há uma acusação pessoal a ela. Mas a deterioração do cenário político, combinado com a crise econômica, serve de combustível para as manifestações de 13 de março. A reação dos defensores do governo, sintetizada nas frases “não vai ter golpe” e “vai ter luta”, tem pouco ou nenhum efeito sobre um Congresso em que cada parlamentar está preocupado em salvar a própria pele. Como o governo desestimulou as manifestações a seu favor, para evitar confronto e para fugir da comparação entre o tamanho de uma manifestação e de outra, não se saberá neste fim de semana qual é o tamanho do exército de Dilma.
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Com Lula sob investigação, a saída imaginada pelo PT, de fazer dele um primeiro-ministro de Dilma, está longe de representar uma solução. Ao contrário, poderia ser o conhecido abraço de afogado – para os dois.
A primeira preocupação de Dilma nem é com o domingo. É com o sábado, quando o PMDB discutirá o afastamento do governo, sem tomar a decisão definitiva sobre a entrega dos cargos. Se o PMDB tirar a escada, aprovando um indicativo de rompimento, Dilma fica pendurada por um fio.
Na entrevista em que mais uma vez defendeu seu mandato e reclamou da proposta de impeachment, Dilma disse que não tem cara de quem renuncia. Quem a conhece atesta que a renúncia não combina com sua personalidade nem com seu passado de guerrilheira. A dúvida é por que incluiu essa palavra proibida na conversa em momento de tamanha fragilidade.