Para que serve uma lista de nomes e codinomes de políticos, acompanhados de valores que teriam recebido da Odebrecht ou de qualquer outra construtora? Você pode escolher uma das seguintes opções:
( ) Para os eleitores se divertirem com os apelidos, imaginando que alguns fazem todo sentido e se perguntando quem batizou e por que Fulano ou Beltrano era conhecido por esta ou aquela alcunha. ( ) Para desmoralizar ainda mais a já desgastada classe política.
( ) Para confirmar a tese de que a Odebrecht não colocava todos os ovos na mesma cesta e financiava candidatos de todos os partidos.
( ) Para mostrar que os juízes também erram, principalmente quando se precipitam.
A planilha da Odebrecht, que se transformou no principal assunto da quarta-feira, serve para todas as opções mencionadas. Ou seja, para quase nada. Podem estar no mesmo balaio doações legais de campanha, dinheiro de caixa 2 e propina. Não há como separar o joio do trigo. Essa identificação até poderá se tornar possível no futuro, na anunciada delação premiada de executivos da Odebrecht. Por ora, o que se tem é um equívoco que nivela por baixo, como se todas as doações fossem pagamento de propina.
O juiz Sergio Moro reconheceu o erro da liberação da lista que contém nomes de pessoas com foro privilegiado no Tribunal de Justiça, no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribuna Federal. Só que, quando restabeleceu o sigilo, já era tarde demais. Estavam todos os citados sendo chamados a dar explicações.
Com pequenas variações, a justificativa de cada um pode ser resumida em três frases:
1. Não recebi nada e não sei por que meu nome está na lista.
2. Recebi e está tudo declarado na prestação de contas à Justiça Eleitoral.
3. Recebi do partido e não tinha como saber de onde vinha o dinheiro.
O problema não é a planilha em si. É a deformação do sistema de financiamento de campanhas eleitorais, que a Odebrecht promete desnudar na delação premiada. Até 2014, era possível, sim, as empresas que não queriam aparecer fazerem doações para os partidos. Estes repassavam aos candidatos de acordo com o acerto feito diretamente com os doadores ou usando seus próprios critérios. Em 2014, passou-se a exigir que o candidato discriminasse na prestação de contas o nome e o CNPJ do doador, mas quase todos os que receberam dinheiro das empreiteiras investigadas na Lava-Jato se defenderam dizendo que as empresas contribuíram para o partido e que coube a eles uma cota.
Agora, as doações empresariais estão suspensas, mas o Congresso trabalha para que sejam reabilitadas. A alegação, avalizada pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, é de que não dá para fazer campanha sem dinheiro e que, a persistir a proibição, vai aumentar o uso de caixa 2. É um reconhecimento tácito de que lei foi feita para ser burlada e que a Justiça Eleitoral não tem como impedir as doações irregulares.