Pense na eleição presidencial de 2018, imaginando que o pleito não será antecipado para este ano, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, que examina uma ação do PSDB pedindo a impugnação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer. Em quem você votaria com a certeza de estar fazendo uma boa escolha? Qual dos quase 40 partidos com registro no TSE tem um projeto capaz de conquistar a sua confiança?
Agora pense um pouco mais adiante. Mire na eleição seguinte, em 2023, já que o próximo mandato deverá ser de cinco anos e o presidente não poderá concorrer à reeleição. Quem você vê no horizonte como um candidato potencial à Presidência da República?
Se você não tem resposta para as duas perguntas, não precisa sentir-se um peixe fora d'água: a maioria dos brasileiros também não tem e pensa em votar no menos pior. A Lava-Jato, que ainda tem muita investigação pela frente, vem arrasando biografias e excluindo do cenário eleitoral líderes de todos os partidos. Pelo que já apareceu até aqui, a esperada delação premiada de Marcelo Odebrecht e de outros executivos da empreiteira pode fazer ruir candidaturas antes consideradas sólidas e outras em fase de gestação.
O ex-presidente Lula, que o PT considerava imbatível, tornou-se um dos alvos da Lava-Jato, por suspeita de envolvimento em negócios escusos com empreiteiras. Ainda não foi denunciado, mas deverá ser nos próximos dias ou meses. Mesmo que demore a ser julgado, o desgaste político já aparece nas pesquisas. O alto índice de rejeição e a queda nas intenções de voto indicam que o mito se esboroou.
Aécio Neves (PSDB), que saiu forte da eleição, também foi tragado pela Lava-Jato. A cada delação premiada em que seu nome é citado, o tucano se distancia um pouco mais do sonho de chegar ao Planalto. As pesquisas já captaram o desgaste. Aécio ainda não está sendo investigado, mas a tendência é de que o procurador Rodrigo Janot peça autorização ao Supremo para fazê-lo. Os outros dois integrantes do trio que disputa a preferência no PSDB, José Serra e Geraldo Alckmin, também não estão sendo identificados como alternativa, o que pode levar os tucanos a optar por uma novidade, como o governador de Mato Grosso, Pedro Taques.
O PMDB não tem nomes que empolguem os eleitores. Michel Temer, talvez? Teve 1% na última pesquisa do Datafolha. Eduardo Paes, o prefeito do Rio, queimou-se numa conversa (boba) grampeada com Lula e aparece numa das planilhas da Odebrecht com o codinome de "Nervosinho".
Por enquanto, e por exclusão, só Marina Silva (Rede) vem ganhando com a desgraça dos adversários, mas faltam-lhe um partido forte e uma vitrine para se manter visível até 2018.
O grande risco dessa ausência de líderes autênticos é a abertura de espaço para o surgimento de aventureiros, com perfil messiânico ou mesmo fascista, sem compromisso com a democracia. A História é pródiga em exemplos de países em que o fracasso da política deu lugar a experiências trágicas, que o mundo gostaria de esquecer.