A tradição brasileira de impunidade para corruptos e corruptores levou mais dois golpes no mesmo dia, com o encarceramento do ex-senador Luiz Estevão e a condenação do empreiteiro Marcelo Odebrecht a 19 anos e quatro meses de prisão, e de quatro executivos da construtora. Apesar de condenado a 31 anos de prisão em 2006, Luiz Estevão vivia livre, leve e solto, circulando nas altas rodas de Brasília, enquanto aguardava o julgamento de sucessivos recursos. Agora, vai para a penitenciária da Papuda, porque o Supremo Tribunal Federal decidiu que condenados em segunda instância devem começar a cumprir pena, em vez de recorrer em liberdade.
A condenação de Marcelo Odebrecht por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa deve servir de inspiração para outros presos, que resistem em fazer acordo de delação premiada. Odebrecht resistiu e acabou sendo condenado, como outros réus também o foram, mas com uma diferença: os delatores Alberto Youssef, Renato Duque, Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco foram condenados, mas se beneficiam da redução de pena.
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Legalmente, o dono da Odebrecht ainda pode fazer acordo de colaboração, já que da condenação cabe recurso e ele ainda será julgado em outros processos. A questão é saber se, agora, a delação interessa ao Ministério Público Federal.
Para se beneficiar de eventual acordo, Odebrecht terá de apresentar fatos novos. O benefício oferecido ao delator é proporcional ao tamanho da sua colaboração. Como os investigadores conseguiram montar o quebra-cabeça do esquema de desvio de recursos na Petrobras sem a ajuda dele, é possível que uma oferta de colaboração agora seja recusada, a menos que Odebrecht apresente informações inéditas e relevantes. Pode ser mais produtivo para a investigação apostar na delação de personagens secundários, como a secretária Maria Lúcia Tavares, funcionária da Odebrecht e, segundo os investigadores, conhecedora de detalhes do funcionamento do esquema de pagamento de propina a políticos.