Pela influência que o publicitário João Santana teve nas vitórias do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, é impossível levar a sério a conversa dos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato de que não investigam campanhas eleitorais. Trata-se de um jogo de palavras. Campanhas são da seara da Justiça Eleitoral, mas, ao seguir a trilha do dinheiro, os investigadores podem chegar ao financiamento delas.
Santana é um alvo escolhido a dedo para fazer a conexão entre o desvio de verbas da Petrobras e as campanhas do PT. O amálgama dessa construção é a Odebrecht, que mandou dinheiro para uma empresa de Santana no Exterior. Os delegados desconfiam que a Odebrecht repassou dinheiro ao Instituto Lula e que o possível envolvimento do ex-presidente em atividades criminosas “deve ser tratado com parcimônia”.
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O pedido de prisão de Santana e de sua mulher, Mônica Moura, faz disparar um sinal de alerta no Palácio do Planalto. Porque ele não é apenas o cérebro das campanhas de Lula em 2006 e de Dilma em 2010 e 2014. É o conselheiro da presidente para questões de comunicação. Informalmente chamado de “ministro da propaganda”, um cargo que não existe na estrutura formal do Planalto.
Além de Marcelo Odebrecht, que pagou, só Santana e Mônica, que receberam, podem dizer a título de que a Odebrecht fez depósitos milionários em uma conta da empresa do casal. A defesa do publicitário diz que o dinheiro depositado no Exterior é de pagamento por campanhas realizadas fora do Brasil. Os dois só escaparam de ser presos nesta segunda-feira porque estavam na República Dominicana, trabalhando na campanha de reeleição do presidente Danilo Medina.
Os investigadores consideram estranho que, tendo recebido legalmente cerca de R$ 150 milhões do PT entre 2006 e 2014 nos últimos anos, Santana precise esconder dinheiro da Odebrecht em uma conta secreta.
O problema de Dilma é que a prisão de Santana e as insinuações dos policiais federais e procuradores de que o marqueteiro pode ter recebido dinheiro de propina da Petrobras viram combustível no processo que tramita no TSE para investigar as contas da campanha de 2014. A oposição está em festa. Caso sejam constatadas irregularidades que vão além de questões formais, o TSE pode afastar Dilma e, com ela, o vice-presidente Michel Temer, abrindo caminho para uma nova eleição, que o PT chama de golpe.
No mensalão, a Polícia Federal e o Ministério Público tentaram chegar no então presidente Lula por meio do publicitário marqueteiro da sua primeira campanha fazendo uma devassa nas contas de Duda Mendonça. No julgamento da Ação Penal 470, o Supremo Tribunal Federal absolveu Duda, mas sua carreira de mago do marketing político desandou. O trono foi ocupado por João Santana, que agora, com a prisão decretada, teve de abandonar pela metade o trabalho na República Dominicana e voltar ao Brasil para uma temporada na cadeia.