Depois da Operação Lava-Jato, todos os escândalos ficaram pequenos, mas cada denúncia nova de corrupção ou de favorecimento reforça nos brasileiros a percepção de que o sistema político apodreceu. A novidade do fim de semana foi a reportagem do jornal O Estado de S.Paulo mostrando que, em 2013, o deputado Eduardo Cunha plantou uma emenda na medida provisória que estabelecia novas regras para a gestão dos portos e beneficiou apenas uma empresa, o Grupo Libra, doador de campanha do vice-presidente Michel Temer.
Os fatos obscuros envolvendo o Grupo Libra vêm dos anos 1990, época em que venceu a licitação para administrar uma área do porto de Santos. Graças à emenda de Cunha, o Libra conseguiu, em 2015, renovar a concessão por mais 20 anos, mediante promessa da investimentos, mesmo devendo R$ 850 milhões ao governo desde 1998.
Não existe uma acusação contra Temer, mas as coincidências significam mais uma pedra no sapato do vice. Ele recebeu R$ 1 milhão dos donos do Libra na campanha de 2014. Doação legal, devidamente registrada e que, segundo sua assessoria, foi repassada a outros candidatos do PMDB. Mais uma vez, por trás de uma denúncia de favorecimento a um grupo empresarial, aparece ela, a doação de campanha.
Na eleição deste ano, as doações empresariais estão proibidas por decisão do Supremo Tribunal Federal e pela lei da qual a presidente Dilma Rousseff vetou a continuidade das contribuições de pessoas jurídicas. A Lava-Jato derrubou o mito de que doações registradas na Justiça Eleitoral estavam acima de qualquer suspeita. Os fatos mostraram que, no caso das empreiteiras, as doações não saíam do lucro, mas de superfaturamento, desvios e troca de favores. Propina com recibo, em outras palavras.
Um dos delatores, que diz ter entregue, a mando do doleiro Alberto Youssef, R$ 300 mil a um diretor da UTC, que levaria o dinheiro para o senador Aécio Neves, resumiu o critério das empreiteiras: “Aqui a gente dá dinheiro pra todo mundo: situação, oposição, pessoal de cima do muro, pessoal do meio de campo, todo mundo”. Aécio nega ter recebido dinheiro de caixa 2 da UTC.