Baseada nas conclusões de um estudo do Tribunal de Contas do Estado, a reportagem da jornalista Juliana Bublitz sobre o descontrole na Educação ajuda a explicar o mau desempenho dos alunos nos testes de avaliação. Há anos, o Estado vem perdendo posição nos rankings nacionais, sem que os governos sejam capazes de virar o jogo. Qualquer tentativa de mudança esbarra no corporativismo do Cpers e na incapacidade dos governos de convencerem a sociedade de que mudar é preciso.
Como o Estado não paga o piso salarial, o sindicato usa esse argumento para boicotar qualquer tentativa de mudança. Ignora que uma gestão mais eficiente pode ser o caminho para o cumprimento dessa lei tão cara aos professores. Antes de nomear mais docentes, o governo deveria fazer um censo profundo para saber quais são as necessidades reais de cada escola.
Tome-se o caso das gratificações de difícil acesso: sem revisão dos critérios de classificação, o bônus perdeu conexão com a realidade. Se nos anos 1970 um professor precisava viajar 30, 40 quilômetros por estrada de chão para chegar à escola de um distrito remoto, o difícil acesso era mais do que justificado, Com a onda de emancipações e o asfaltamento de estradas, a revisão deveria ter sido feita há muito tempo. Como não foi, o adicional acabou incorporado ao salário e, agora, ninguém tira.
Se fosse mais a fundo, o TCE descobriria que a estrutura das Coordenadorias Regionais de Educação é do tempo dos dinossauros. Hoje, com a informatização e o avanço da internet, o governo deveria rever não apenas o número de coordenadorias, como o tamanho das equipes.
O TCE constatou o óbvio: o professor que falta em sala de aula pode estar trabalhando na biblioteca, na secretaria e até na portaria da escola. Embora o governo diga que isso não é desvio de função, os auditores garantem o contrário. Trabalhos burocráticos deveriam ser feitos por outros servidores ou - por que não? - por empresas terceirizadas.
O governo anunciou na semana passada a devolução, para as escolas, de professores cedidos, mas não toca nos desvios de função dentro das próprias instituições.