Bombardeado pelo PT e sem apoio para fazer o ajuste fiscal a que se propôs, Joaquim Levy deixa o Ministério da Fazenda antes de completar um ano no cargo. É a saída mais anunciada de todas as trocas feitas pela presidente Dilma Rousseff neste primeiro e turbulento ano do segundo mandato. Levy não tinha alternativa: até para preservar sua reputação de executivo disputado pelo mercado, precisava deixar um governo no qual era um corpo estranho.
Na prática, Levy só colheu fracassos. Não por culpa dele, mas de uma conjuntura que transforma o Ministério da Fazenda em um moedor de carne. Sem apoio político, não conseguiu fazer o ajuste fiscal a que se propôs, a inflação ultrapassou os dois dígitos, o dólar bateu nos R$ 4, o Brasil perdeu o grau de investimento em duas agências de classificação de risco e o desemprego não para de aumentar. Nos últimos dias, a situação do ministro se tornou insustentável e sua queda era tão certa quanto a mudança das estações.
Com cinco anos de atraso, Dilma nomeou Nelson Barbosa para a Fazenda. Ele era seu preferido em 2011, mas o PT impôs a manutenção de Guido Mantega, hoje tido como o responsável pelo descontrole das contas em uma dobradinha com o então secretário do Tesouro, Arno Augustin. Barbosa fazia parte da equipe que se notabilizou pelas chamadas pedaladas fiscais.
No segundo mandato, Dilma gostaria de ter nomeado Barbosa para a Fazenda, mas foi aconselhada a escolher alguém que detivesse a confiança do mercado. Tentou Luiz Carlos Trabuco, mas o executivo não quis trocar o Bradesco pelas incertezas de um governo que começava desgastado. Sobrou Levy, outro diretor do Bradesco, que trabalhou no governo Lula e no FMI e foi secretário da Fazenda do Rio de Janeiro.
Dilma foi aconselhada a indicar um político para o Ministério do Planejamento, mas optou por um técnico, Valdir Simão, ministro da Controladoria-Geral da União. A escolha da dupla Barbosa-Simão para comandar a política econômica atende aos anseios do PT, que considera Levy excessivamente comprometido com as teses liberais. Barbosa defende um superávit menor do que o pretendido por Levy, como forma de preservar os programas sociais.
O mercado torce o nariz para Barbosa, mas já não apoiava Dilma com Levy no ministério. Tanto é assim, que a Bolsa subiu e o dólar caiu quando Eduardo Cunha acatou o pedido de impeachment. Entre o mercado e seu eleitorado fiel, Dilma optou pelos que ainda estão com ela.