A rápida visita do vice-presidente Michel Temer a Porto Alegre, ontem, mostrou que o cheiro de poder é inconfundível – e irresistível. Os 80 lugares disponíveis para o almoço Brasil de Ideias, da revista Voto, se esgotaram tão logo foi confirmada a presença do vice. A diretora executiva da revista, Karim Miskulin, passou os últimos dois dias dizendo não aos que queriam comprar convites, pois não havia como ampliar a capacidade do salão.
Temer chegou ao hotel Sheraton com duas horas de atraso, acompanhado dos principais líderes do PMDB. A caminho da mesa principal, parou para abraçar a ex-governadora Yeda Crusius (PSDB), uma das mais entusiasmadas defensoras do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Na presença de políticos e empresários como Jorge Gerdau Johannpeter, o vice fez um discurso cauteloso, que não desse margem à interpretação de que está conspirando contra a presidente. Defendeu a reunificação do Brasil, uma saída rápida para a crise e a revisão do pacto federativo. Começou dizendo que considera superado o episódio da carta:
– Conversei com a presidente e acertamos os ponteiros.
Quem mais falou da carta foi o ex-ministro Eliseu Padilha, que trata o vice-presidente por Michel. Unha e carne com Temer, Padilha repisou a versão de que a carta vazou pelo Planalto e contou que, diante da repercussão, a assessoria de Temer entregou a íntegra a um jornalista “para evitar que fossem divulgados apenas trechos”.
Padilha tratou a carta como um desabafo de um homem normalmente comedido.
– O Michel que eu conheço, que a Marcela e o filhinho deles conhecem, é humilde e sensível. É o libanês mais britânico que conheço.Fala pouco e ouve muito. Cortou o corpo e mostrou o coração – comparou Padilha, tentando, sem sucesso, desidratar o conteúdo político da carta.
Mais tarde, no encontro com deputados estaduais e federais do PMDB, Temer reafirmou que o partido não está conspirando contra Dilma. Apesar do ativismo pró-impeachment dos deputados Osmar Terra e Darcísio Perondi, falou da importância de não deixar colar no partido o rótulo de golpista.
– O PMDB não quer o papel de conspirador – reforçou.