O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
O presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, lançou recentemente o livro Entre a luz e as Trevas, que aborda os motivos do conflito entre Israel e Hamas. A coluna conversou com o autor.
Como surgiu a ideia do livro?
Nasceu de uma preocupação que temos que envolve os desafios das sociedades democráticas contemporâneas quando tivemos a invasão do grupo terrorista em Israel em 7 de outubro de 2023. Naquele momento, foram assassinados cerca de 1,2 mil pessoas e sequestradas outras 230. O que o Hamas fez não agrediu só o Estado de Israel, mas ele expôs ao mundo uma face que é extremamente brutal, que é um choque entre dois tipos de sociedades: uma que preza pela democracia, pela tolerância, pela liberdade, pelo respeito à diversidade, e uma sociedade teocrática absolutista que não é muito afeita à democracia como a prática da relação, e eu me aprofundei muito nisso. Estive em Israel e pude, num primeiro momento, tentar digerir aquilo que de certa forma fazia recrudescer o sentimento de muitos judeus, porque foi sem dúvida alguma o ataque mais cruel depois do episódio do holocausto, mas com o passar do tempo eu percebi que aquilo transcendia o espaço da vida de Israel e da comunidade judaica. Pude confirmar isso quando visitei, quando conversei com o presidente de Israel, quando falei com líderes da oposição ao atual governo, quando falei com soldados da linha de frente, então entendi que aqueles artigos que eu já havia escrito a outras contribuições, discursos e falas poderiam servir de um material que esclarecesse o que existe por detrás disso. Essa é a proposta de um livro, para que possamos mostrar de que maneira esse conflito, quem sabe, possa contribuir para entender a sociedade contemporânea.
E o que se pode tirar desse estudo?
A primeira coisa é que estamos vendo cada vez mais a evidência de que o Irã é o grande financiador do terrorismo internacional. Está cada vez mais claro que o presidente do Irã toma posse e todos os representantes dessas organizações terroristas estão presentes. Já ouvíamos desde Mahmoud Abadelejah, que foi presidente há 15 anos atrás, ele dizia que o desejo do Irã é varrer Israel do mapa e o Hamas, que é o braço armado terrorista dele, tem isso de querer eliminar Israel, matar todos os judeus que estão lá e fora de lá. Essas evidências elas são muito claras, o choque de dois mundos também estão ficando muito claro porque os apoios de presidentes de países se materializam muitas vezes por razões que são absolutamente inegociáveis em termos de valores. Estamos assistindo hoje pessoas patrocinando ações contra o Estado de Israel em tribunais penais que não se materializam em como sendo algo verdadeiro, isso não é o suficiente nem para que eles voltem atrás, então o que me chamou atenção também durante esse período é um sentimento de antissemitismo que estava de certa forma enrustido dentro do comportamento individual e muitas vezes das instituições. O número de manifestações, e acompanhamos isso de maneira métrica, dentro de espaços nas mídias sociais, manifestações essas de caráter antissemita cresceu muito no Brasil e vemos isso porque o governo brasileiro muitas vezes importa o conflito usa exemplos informações erradas e equivocadas.
Como avaliam esse aumento no Brasil?
Acho que tem que colocar isso dentro de um contexto histórico. O ódio a judeus ele nunca esteve sozinho, tem muitos fatores que levam os judeus estarem na linha de frente. Nós aqui Conib fizemos alguns levantamentos e logo depois dos atentados do Hamas os casos de antissemitismo dispararam. Foram 467 denúncias registradas em um único mês. É um aumento, para que você tenha uma ideia, de 961% em relação ao mesmo período do ano anterior, portanto acho que esses casos têm que ser registrados, porque infelizmente esse ódio embora ele não seja algo novo, um crescimento dessa magnitude me chama muito a atenção. Ao longo da história tivemos inúmeros exemplos disso, mas não podemos aceitar essa questão de um preconceito em relação ao perfil de uma comunidade, então temos de se motivar. O que a Conib tem feito, em primeiro lugar, é tentar agir de maneira educativa, criando plataformas de esclarecimento, fortalecendo debates, não fugindo de entrevistas, contestando publicamente e, quando isso não repercute de uma forma positiva, agindo também dentro do marco legal, porque essas pessoas serão processadas e eu tenho certeza que comprovado, vai ter muita gente que vai acabar sendo condenada por conta de antissemitismo.
No começo do livro o senhor explica o que é sionismo e antissemitismo. O que são esses termos?
Em primeiro lugar, o sionismo é um movimento criado no sentido do estabelecimento de um estado com raízes judaicas. Muitos se apropriam para dizer "nós não somos antissemitas, mas somos antisionistas", quando na realidade ser antisionista, se você tem países em todo o mundo e o único estado judaico não pode existir, o antisionismo é uma forma particular do antissemitismo. Eu diria que o antissemitismo já teve diferentes versões ao longo da história. Já teve uma natureza religiosa, na época da inquisição, teve uma natureza racial durante o período do holocausto e hoje tem uma ação de natureza de deslegitimização do estado de Israel. Então o antisionismo é uma maneira particular de expressar o antissemitismo.
Outro capítulo fala sobre 18 conceitos. Que conceitos são esses?
Os conceitos, na verdade, é para você poder entender qual o significado de termos que são chaves. O que é Israel? O que é o Hamas? O que é a Fatah? O que é a região da Palestina? A região da Palestina era onde viviam cristãos, onde viviam curdos, judeus, muçulmanos. Ninguém entende direito o que é genocídio. Genocídio houve no dia 7 de outubro, bastava encontrar pela frente, o interesse era matar a qualquer custo. Israel não pratica genocídio. O Apartheid é um outro conceito que é importante. O que é a Cisjordânia? O que foi o Holocausto? Então, para podermos participar desse diálogo, o mínimo de informação que a gente esperaria das pessoas, é que elas pudessem entender, de fato, cada uma dessas terminologias.
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